Crítica: 7 Desejos

Crítica: 7 Desejos

Desde que A Morte do Demônio (1981) foi lançado e se consagrou como um dos maiores sucessos do cinema independente de terror, outros filmes tentam repetir a conquista do clássico, mas têm falhado miseravelmente por diversos motivos. Entre eles, estão os exagerados efeitos especiais, péssimas atuações, e o pior: roteiros preguiçosos que se aproveitam de situações fáceis para “tentar” entreter seu público, que felizmente não é tão ignorante quanto alguns roteiristas, diretores e produtores acham. 7 Desejos é um desrespeito com o ingresso pago pelo espectador e um insulto aos fãs do gênero, além de desprezar os amantes da sétima arte que procuram se entreter com muito mais do que a história, buscando refúgio em outras áreas como uma fotografia atraente, uma direção criativa e uma montagem competente. Mas, nessa obra, não encontramos nada disso.

Minha comparação com o cult A Morte do Demônio não é infundada. Um elemento em comum ligam as duas obras em questão: um artefato maligno que determina os acontecimentos da história. Porém, a diferença é que o clássico de 1981 dirigido por Sam Raimi consegue ser inovador em seus movimentos de câmera, em um terror gore característico com maquiagens aterrorizantes e história envolvente. Para quem não sabe, no filme alguns amigos vão para uma cabana abandonada e encontram um velho livro trancado. Um dos amigos resolve abrir o livro e ler as palavras em voz alta, o que acaba atraindo uma força demoníaca. Outra conhecida falha do gênero em querer se inspirar levemente nessa premissa foi Possessão (2012), onde uma garota se interessa por uma caixa misteriosa que ocasiona vários eventos sobrenaturais. 7 Desejos se junta à essas terríveis “reproduções de Pandora”.

No filme, a adolescente Claire (Joey King) ganha de seu pai uma caixa mágica, que lhe concede sete desejos. Claire acaba fazendo apenas desejos pessoais e coisas ruins começam a acontecer com pessoas próximas à ela. Com isso, ela suspeita que dentro da caixa vive uma entidade malvada que pode estar causando esses acontecimentos terríveis. Uma sinopse simples e sem novidades. Mas isso não é de todo ruim. Muitos filmes podem ter uma premissa simples, mas sabem inovar com um conteúdo original ao longo de seu segundo e terceiro ato. Entretanto, o filme parece escorregar feio em todas tentativas.

Seu tratamento de acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis nos remete à saga Premonição (2000-2011), porém em versão bem menos ineficaz. O roteiro, que junto com a trilha sonora é o maior problema do filme, parece querer combinar um drama adolescente com uma abordagem de terror e acaba se perdendo completamente e tendo dificuldades em transmitir sua mensagem que até agora não sei qual é. Além de desenvolver mal seus personagens (com exceção da protagonista), Barbara Marshall (roteirista) estereotipa cada personalidade (garanhão, patricinha, etc) e torna sua narrativa previsível. As próprias mortes dos personagens chegam a ser cômicas de tão mal elaboradas. Ficamos com o riso na lingua nos perguntando se essa foi a verdadeira intenção do roteiro.

Ainda que os conflitos e as ambições da protagonista sejam construídos de maneira satisfatória, muitos de seus desejos beiram o absurdo de tão desnecessários e fúteis, o que complica para que o expectador se identifique com Claire. Além dos próprios problemas da personagem, é triste admitir que a atriz Joey King não parece conseguir carregar um papel tão importante nas costas. Com carência de expressões faciais e credibilidade em suas ações (o que também pode ter sido falta de uma mais assídua direção de atores), Joey King deixa a impressão de que ainda precisa ganhar muita experiência com papéis coadjuvantes. É triste dizer isso, pois é uma atriz que eu particularmente admiro muito desde obras fantásticas no ínicio de sua carreira, como Invocação do Mal (2013), Amor a Toda Prova (2011) e o meu favorito, Ramona e Beezus (2010).

Porém, não é só Joey King que me decepcionou seriamente. O próprio diretor John R. Leonetti também é outro nome que está caminhando para uma carreira decrescente. Responsável pela direção do desastroso Annabelle (2014), poucos sabem que Leonetti é na verdade um exímio diretor de fotografia, carreira que se iniciou em 1991 com Brinquedo Assassino 3. Nessa função, o homem é responsável por incríveis obras de terror dirigidas pelo gênio James Wan, como Gritos Mortais (2007), Sobrenatural (2011) e o já citado Invocação do Mal (2013). Sabe-se lá por que o cinegrafista resolveu abandonar seu cargo de diretor de fotografia que não exerce há mais de 3 anos.

Infelizmente, nada atraiu minha atenção na obra. A fotografia não parece ter sido sequer idealizada com mapas de luz e movimentos de câmera inteligentes. A montagem é possivelmente o aspecto técnico menos ruim de 7 Desejos. Algumas transições de planos costurados parecem interessantes, e não confundem o expectador. Se por um lado a montagem é o ponto alto do filme, os efeitos sonoros é o abismo da obra. Jump scares (sustos inesperados) parecem forçados e sem lógica, fazendo com que o som do filme dite o ritmo das mortes e dos acontecimentos. Como se não bastasse de coisas ruins, a trilha sonora aparenta conduzir o filme para uma comédia dramática ou romance adolescente. As músicas repetitivas não envolvem o público em nenhum momento.

A obra se mostra mais um completo infortúnio do terror. Torço para que não percamos a esperança de que bons filmes do gênero ainda estão por vir. Mas recomendo a todos os leitores e cinéfilos que passem longe das salas de cinema quando o assunto é assistir a 7 Desejos. Acredite, o máximo que irá conquistar para si mesmo é menos dinheiro na carteira, tempo perdido e uma grande frustração acarretada por cenas estúpidas e uma história lamentável.

FICHA TÉCNICA
Direção: John R. Leonetti
Roteiro:
Barbara Marshall
Elenco: Joey King, Ki Hong Lee, Sydney Park, Ryan Phillippe, Elisabeth Röhm, Mitchell Slaggert, Shannon Purser, Kevin Hanchard, Sherilyn Fenn, Annika Harris, Alice Lee, Jerry O’Connell
Produção: Sherryl Clark
Fotografia: Michael Galbraith
Montagem: Peck Prior
Gênero:
Terror
Duração: 90 min

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

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