Crítica: Aquaman

Crítica: Aquaman

Um herói afogado no espetáculo

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Excesso. Essa é a palavra que vem à cabeça no final das quase duas horas e meia da projeção de Aquaman, depois de um tsunami de cores, figurinos berrantes e efeitos em computação gráfica ter invadido a tela. Tudo para dar um ar grandioso ao herói interpretado por Jason Momoa, criado nos quadrinhos por Paul Norris e Mort Weisinger, e que após ser introduzido em Liga da Justiça ganha sua própria aventura de origem.

A grandiosidade de fato está lá, mas vem acompanhada de uma incômoda sensação de artificialidade.

Ao contrário de, por exemplo, Mulher-Maravilha, que colocou a heroína amazona no front da Primeira Guerra Mundial, há em Aquaman muito pouca conexão com o mundo real. Existe um breve lampejo disso quando os líderes do Reino de Atlântida devolvem à superfície parte das toneladas de lixo que a humanidade descarta no oceano há centenas de anos. Porém, esta mensagem ambiental é pouco aproveitada para dar lugar à fantasia, tom que o longa abraça sem fazer cerimônia.

O filme até começa bem. O prólogo tem boas cenas, como a luta da personagem de Nicole Kidman em plano-sequência e o momento em que o protagonista, ainda na infância, tem um gostinho de seus superpoderes num aquário. Mas à medida que a trama mergulha no fundo do mar, os conflitos ficam à deriva, perdidos numa mitologia o tempo todo reforçada pelos diálogos, com poucas cenas de ação que a ajudem a fazer sentido – coisa que Pantera Negra, por sua vez, conseguiu fazer com maestria.

No papel principal, Jason Momoa é o clichê do brutamonte de bom coração. Uma das piadas é essa, representada pelo momento no qual o protagonista é acossado por um grupo de humanos tão ameaçadores quanto ele, mas que no fundo só querem uma selfie. O humor do longa anda sempre por aí, inofensivo e um tanto quanto bobo.

O diretor James Wan (da franquia Invocação do Mal) parece aceitar a condição de que ninguém nunca levou muito a sério o Aquaman e aceita isso de forma fácil. O roteiro abre mão do clima soturno que foi tão criticado em produções anteriores da DC e investe num clima de caça ao tesouro, quando Momoa e Amber Heard (como a guerreira Mera) vagam pelo deserto, pela ilha italiana da Sicília e outros locais à procura do Tridente reservado ao legítimo rei.

O próprio Wan disse em entrevistas ter se inspirado em aventuras dos anos 80 como Os Caçadores da Arca Perdida e Tudo Por Uma Esmeralda. Com o orçamento que teve à disposição, era de se esperar algo a mais do que uma reciclagem de velhas ideias.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil