Crítica: Arranha-Céu – Coragem Sem Limite

Crítica: Arranha-Céu – Coragem Sem Limite

Filme não disfarça sua inspiração em ‘Duro de Matar’, mas está bem longe de entrar para o rol das grandes produções do gênero

Dwayne “The Rock” Johnson é o último herói de ação nos blockbusters de Hollywood. O astro talvez seja o único do mercado atual capaz de atrair um público cativo, disposto a ver o ex-astro de luta livre na tela grande distribuindo sopapos e carisma, independentemente da trama em que seu personagem esteja envolvido.

2018 está sendo de colocar esta teoria à prova. Mal chegamos em julho e Arranha-Céu – Coragem Sem Limite é o terceiro lançamento estrelado por Johnson a aterrisar nos cinemas brasileiros, depois da adaptação do game Rampage – Destruição Total e da nova versão de Jumanji. Para alguém que basicamente faz sempre o mesmo tipo de filme, o desgaste da imagem se torna inevitável.

Sem esconder sua vocação para ser um Duro de Matar genérico (até pôster oficial parodiando o “material original” foi feito), o longa é incapaz de envolver o espectador, muito por conta da falta de esforço do roteirista e diretor Rawson Marshall Thurber, que já havia trabalhado com The Rock na comédia Um Espião e Meio.

Aqui, o ator interpreta Will Sawyer, ex-fuzileiro naval que trabalha agora no ramo de segurança privada, após ter perdido a perna em uma missão mal-sucedida. Seu antigo parceiro (Pablo Schreiber) lhe consegue um trabalho em Hong Kong, no qual serve como consultor de segurança para um ambicioso edifício construído com as mais avançadas tecnologias.

Numa sequência constrangedora até para as mais apelativas propagandas de margarina, somos apresentados à esposa Sarah (Neve Campbell, a eterna Sidney da franquia Pânico) e o casal de filhos gêmeos, que queriam aproveitar a estadia do outro lado do mundo para turistar, mas acabam sendo feito de reféns pelos vilões. É a motivação necessária para Will fazer as estripulias mais insanas.

Trabalhando em seu primeiro longa fora do humor, Thurber (responsável também por Com a Bola Toda e Família do Bagulho) parece ter feito a decisão consciente de tirar qualquer traço de comicidade em Arranha-Céu – Coragem Sem Limite. Porém, o tiro sai pela culatra. De tanto se levar a sério, o filme arranca risos involuntários diante das frases de efeito impostadas ditas por seus personagens e as cenas de ação que forçam a barra além da conta.

Está certo que ninguém espera verossimilhança de uma produção sobre um incêndio que consome o prédio mais alto do mundo, mas ver o musculoso herói se segurar com as mãos apenas numa perna mecânica para não despencar lá de cima é um pouco demais… Se para quem sofre de vertigem há cenas de ação que representam momentos terríveis, para quem se preocupa como coisas como roteiro, a falta da mínima complexidade dramática é motivo para verdadeiro pânico.

Caso não levasse a sério os absurdos que propõe, o filme poderia ser uma pérola trash. Mas a insistência em uma mensagem edificante de valorização da família e a absoluta falta de malícia deixa o resultado a anos luz do clássico protagonizado por Bruce Willis nos anos 80.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil