Crítica: Everything Sucks! (1ª Temporada)

Crítica: Everything Sucks! (1ª Temporada)

Netflix traz série nostálgica ambientada em 1996 e explora as vidas de adolescentes no ensino médio

Concordemos que há, sim, diferenças entre o modelo de ensino médio nos Estados Unidos e no Brasil (inclusive na infraestrutura), mas seriam elas o suficiente para afastar o espectador brasileiro das experiências passadas pelos adolescentes estadunidenses? Pessoalmente, acredito que nem um pouco. A nova série Everything Sucks! é a prova viva de que a adolescência é um período complicado para todos, mas acima de tudo muito marcante. Que o design de produção contextualiza muito bem os anos 90 já dá para perceber pelo trailer, mas será que a história é boa e envolvente mesmo?

Oregon, 1996. Na escola de Boring, Kate Messner (Peyton Kennedy) e Luke O’Neil (Jahi Winston) são dois alunos que sabem muito bem o que é passar pelos dramas do colégio, mas não os únicos, já que todos os membros do clube de teatro e de vídeo sentem o mesmo desespero. Sem internet ou smartphones, essa turminha decide, então, produzir um filme para entreter toda a população de Boring, mas ao mesmo tempo, se conhecerem melhor. O problema é que a ideia/projeto de gravar um filme só aparece lá pelo final do quarto episódio, e como a série é bem curta (10 episódios durando entre 20 e 25 minutos cada), é previsível que não seja possível elaborar essa premissa com calma e esmero.

Os primeiros episódios são um tanto quanto complicados para entreter o público, pois os calouros ainda estão se ajustando e o nós, conhecendo os personagens. Há uma interessante apresentação dos personagens, principalmente dos protagonistas Kate e Luke, mas outros adolescentes como Tyler, McQuaid, Emaline, Oliver e Leslie entretém logo em seus primeiros minutos em cena, devido tanto a interpretação dos atores mirins quanto a caracterização de suas personalidades. Mas se o roteiro acerta ao explorar os personagens, ele erra ao construir sua identidade narrativa.

Em muitos momentos, os episódios nos deixam a impressão de que a série tenta arremessar vários elementos conflitantes da adolescência de uma só vez, como o descobrimento da sexualidade, a ausência paternal, o bullying no colégio, entre outros. Esse volume de informações acrescentados apressadamente não dá tempo para que o espectador absorva cada um dos elementos, o que só se torna mais dificultoso com a curtíssima duração dos episódios.

Os trejeitos dos personagens e suas individualidades são cirurgicamente certeiros, mas muitas de suas atitudes/ações se mostram inverossímeis (como a fácil e rápida adaptação/aceitação dos calouros no ensino médio), o que não problematiza tanto pois a série é uma comédia adolescente, mas ainda fica devendo em uma construção mais verdadeira. Sem falar do humor da série, que demora um pouco para realmente atingir o espectador.

A direção de fotografia possui um trabalho questionável ao meu ver, pois embora apresente bons enquadramentos, a frequente necessidade de incluir zooms de aproximação no rosto dos personagens não me agradou, pois parece uma referência forçada aos movimentos de câmera utilizados nos anos 90 – mas sem nenhum propósito narrativo.

Felizmente, esse descaso não afeta de forma algum a importância (e fidelidade) do trabalho visual exercido pela direção de arte, que inclui objetos nostálgicos, figurinos de cores marcantes e uma construção de cenários bem cativante. Até a maquiagem e os penteados fazem questão de reforçar os costumes dos anos 90. Uma boa e mista trilha sonora também garante o envolvimento com o público, principalmente com os espectadores nascidos na década de 80/90 que podem se deliciar com algumas das músicas mais memoráveis da época.

Ao fim da temporada é evidente que alguns arcos se mostram não concluídos, e geram uma espectativa no público para que haja mais aventuras com aqueles personagens em uma segunda temporada. Inclusive depois de um intrigante gancho deixado na última cena, que pode lembrar muito a finalização de outra série recente da Netflix: The End Of The F***ing World. Não posso falar por todos, mas aqui vai uma opinião pessoal: Everything Sucks! não se torna nem de longe uma série inesquecível (pelo menos não nessa temporada) mas com certeza possui todos os ingredientes para divertir seu público de todas maneiras possíveis.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.