Crítica: Liga da Justiça

Crítica: Liga da Justiça

“Você não pode salvar o mundo sozinho”

Opiniões divididas de crítica e público. Heróis com importância gigantesca para a cultura pop. Vilões regulares (ou, melhor dizendo, fracos). Pouco aproveitamento de um rico e diferenciado material. Essas são algumas das características que povoam o Universo Estendido DC. Voltando algumas casas para 2013, após a fase Christopher Nolan com a Warner, tivemos a estreia de Homem de Aço (após as duras críticas a Lanterna Verde, de 2011) sob a visão de Zack Snyder. Com o filme, foi dado um start positivo a este Universo de heróis que há muito já eram respeitados e amados. Em Batman vs Superman, porém, as coisas ficaram bem divididas e a DC foi obrigada a repensar algumas de suas escolhas criativas. Quando chegou a vez de Esquadrão Suicida, mal houve discussão: foi praticamente unânime a certeza de um fracasso narrativo (mas não de bilheteria, o que gerou muita controvérsia). Já Mulher-Maravilha representou o primeiro grande acerto do estúdio, como sabiamente disse Henry Cavill em recente entrevista sobre Liga da Justiça e os problemas que a DC/Warner vêm enfrentado.

Portanto, a expectativa para o filme Liga da Justiça aparecia como em uma via de duas mãos: ele pode ser melhor que seu antecessor, Mulher-Maravilha; ou pode ser bombardeado como Esquadrão e BvS. O fardo era grande e, não por menos, importante. As discussões de Marvel Studios vs Warner Bros. já estão um tanto quanto saturadas e todos nós já sabemos que estes dois estúdios são o que são hoje pelo o que cada um faz individualmente com suas produções, e não com o intuito de um ser o extremo oposto do outro. As editoras sempre foram diferentes no tom e essa diferença não deveria ser tão comparada. Mas como a Fórmula Marvel veio antes, os gostos do próprio público dificultaram ainda mais a visão da DC – que realmente foi se tornando no mínimo confusa.

Enquanto a Marvel já havia apresentado basicamente todos os Vingadores antes do filme homônimo de 2012, a DC optou por apresentar a maior parte dos heróis juntos, começando por Batman vs Superman. Falta de planejamento? Pode até ser, mas acontece que, após Mulher-Maravilha, a visão turva foi ficando mais clara. Agora, com Liga da Justiça, o caminho inverso pode realmente dar certo: com os filmes-solo do Aquaman, Flash e Batman à vista, o lampejo de esperança do Universo DC enfim apareceu.

“Você não pode salvar o mundo sozinho”. A frase de divulgação de Liga da Justiça diz muito sobre o filme e ainda mais sobre o presente e futuro da Warner/DC. Foi preciso unir todos de uma vez para depois fazer com que cada um seguisse seu próprio caminho.

Onde paramos?

Liga da Justiça se inicia logo após o que houve em BvS, com a trágica morte de Superman (Henry Cavill). Porém, mais acontecimentos trágicos começam a acontecer em decorrência da morte do herói, fazendo com que o mundo se torne mais violento e a população mais aflita. Isso tudo acontece ao mesmo tempo em que Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck), com a ajuda de Alfred (Jeremy Irons) e Diana Prince/Mulher-Maravilha (Gal Gadot), investiga uma possível ameaça para o planeta: o Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), uma entidade poderosa que, exilada por muitos milênios, pode voltar à superfície a fim de procurar as Caixas Maternas, que estão escondidas na Terra e causariam a destruição mundial. Dispostos a criar a equipe que já haviam pesquisado em BvS, Bruce e Diana convocam Barry Allen/Flash (Ezra Miller), Victor Stone/Ciborgue (Ray Fisher) e Arthur Curry/Aquaman (Jason Momoa).

A Liga

A união dos heróis, apesar de muito divertida e coesa, acaba sendo apressada pela questão do primeiro ato buscar corrigir ao menos alguns dos problemas de BvS. E de certa forma consegue, graças ao carisma e eficiência do elenco. Felizmente, o tempo de cada um em tela acaba sendo bem utilizado e garante que todas as cenas de ação contenham emoção – afinal, estamos falando da Liga da Justiça com a direção cheia de slow motion de Zack Snyder! Portanto, quando falta sentimento (e, acredite, isso acontece), não é por conta dos atores, mas sim pelo roteiro. No entanto, isso não é nada que dificulte a mensagem que o longa busca passar, mas essa mensagem tem um nome e só fica clara a partir do segundo ato.

Quando eu falo de emoção e roteiro, parte do aspecto negativo que é formado em volta do filme se dá por conta da mudança abrupta de tom que os filmes da DC tiveram que fazer. Mulher-Maravilha é o carro-chefe de tal mudança e fez isso muito bem, mas em Liga da Justiça fica muito claro o peso dessa mudança. Se você colocar Homem de Aço e Liga um ao lado do outro, verá que é imenso o grau de diferença – e estamos falando do mesmo diretor. Se por um lado a Warner precisava mudar seu rumo e conseguiu, do outro não é mais possível ver a complexidade e originalidade de um diretor que sempre optou por caminhos mais criativos – por bem ou por mal.

Liga da Justiça faz sentido, diverte e é mais do que um simples filme de herói: ele representa a alvorada, com a verdadeira “Origem da Justiça” acontecendo. Porém, é um filme que não arrisca tanto e parece ter medo de tal atitude. Ao cortar a ousadia pela raiz, o resultado não é nem de longe negativo e deixa o gostinho de quero mais, mas aposta simplesmente na união de super-heróis incríveis e queridos. Para muitos, isso já deve bastar, mas para o público mais exigente, esse detalhe não vai passar em branco.

O vilão da vez

Sinceramente, eu esqueceria de todos estes detalhes que falei acima caso o vilão também tivesse o mesmo carisma e eficiência do elenco. Desenvolvido como se fosse um chefão de videogame, o tal Lobo da Estepe não representa uma ameaça tão grande como a que nos é explicada; muito pelo contrário, chega até a ser cômico o tanto de CGI utilizado para a criação da entidade. Nem mesmo a dublagem competente de Ciarán Hinds compensa o estrago feito (mais uma vez) em um vilão da Warner. O melhor vilão dessa safra continua sendo, de longe, Zod (Michael Shannon), que em Homem de Aço entregou ótimas motivações e uma atuação crível e marcante.

Alívios cômicos e trilha-sonora

Flash, como já era de se esperar dada a abordagem dos trailers, é o personagem escolhido para dar todo o “novo” toque à DC. Seu intérprete, Ezra Miller, está seguro e ajuda muito no carisma do filme como um todo e a, inclusive, fazer com que os outros integrantes da Liga se relacionem de modo mais amigável. Jason Momoa foi a escolha certa para interpretar Aquaman, com boas doses de sarcasmo e bom-humor. Algumas piadas realmente pareceram costuradas em determinadas cenas de última hora, o que é até compreensível. O que importa é que as piadas não estão ‘over’ e nem sem graça, transformando-se em uma ótima adição à trama geral.

E falando em ótima adição, precisamos falar sobre a épica trilha de Danny Elfman. Compositor dos temas de Batman e Batman Returns, o músico inseriu os temas do Homem-Morcego e Superman em momentos-chave, deixando o estilo cartunesco da obra mais evidenciado. Se alguma coisa é capaz de emocionar os fãs da era clássica da DC, sem dúvidas a trilha-sonora faz muito bem esse trabalho.

Superman

Lembra que eu falei acima que a mensagem do filme tem um nome? Pois é, esse nome é Superman. Como já era de se esperar, seu retorno de fato acontece em Liga da Justiça, mas não do jeito que muitos imaginaram (eu, inclusive, ainda estou pensando se sua volta foi pensada da melhor forma). A primeira cena do retorno de Henry Cavill é confusa, mas Lois Lane (Amy Adams) e sua mãe Martha (Diane Lane) fazem seu personagem retornar de vez, lembrando-o do quanto Clark Kent e Superman importam, o que resulta em cenas muito bonitas. O que peca em um acontecimento tão importante como o seu retorno é a facilidade com que tudo é feito, além da falta de tempo e profundidade para explicar exatamente as consequências de tudo, tornando as passagens do personagem um tanto quanto breves. O que compensa toda essa falta de informação é, sem dúvida, ver Superman em ação com a Liga e fazendo o que sabe: ser alguém correto e muito, mas muito poderoso.

Muito se falou de um Superman sombrio, mas esse não é o caso. O que vemos é um personagem mais trabalhado no espírito de liderança e que realmente é o elo que une e torna viva a Liga da Justiça. Além de ser a mensagem do longa, Superman também acaba sendo seu melhor elemento.

Afinal, Liga da Justiça faz jus a tudo o que representa? 

Partindo da importância que Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Flash e Aquaman possuem e da expectativa que os fãs sempre tiveram em ver a Liga formada desde a primeira aparição de Superman no cinema, em 1978, é justo dizer que sim, o filme faz jus ao símbolo de heroísmo que eles representam. O que acontece no novo filme de Snyder (finalizado por Joss Whedon, que dirigiu Vingadores) é a facilidade com que os heróis ainda não conhecidos nesta nova safra da Warner (Flash, Aquaman e Ciborgue, que também cativa) são apresentados, criando um elo interessante com a trama e até mesmo chegando a construir pontes para futuras aventuras solo.

No geral, a Liga convence e entretém seja pela sua motivação quanto pela dinâmica construída em grupo. O destaque novamente deve ir para Gal Gadot, nossa amazona favorita, que está muito bem e com um destaque consequente da grandiosidade de seu filme-solo. Mas como foi dirigida pela primeira vez por Snyder e nem tudo são flores, se prepare para ver muitos closes desnecessários em seu corpo, coisa que não vimos em momento algum no filme de Patty Jenkins.

Se o primeiro ato de Liga da Justiça procura se encontrar, o segundo e terceiro acertam o passo e entregam uma quantidade de emoção satisfatória, ainda que limitada diante da grandiosidade deste universo.

Como bem mostram as duas cenas pós-créditos do filme, o futuro da Warner com a DC não é mais incerto. Pelo contrário, é mais luminoso, charmoso e, definitivamente, mais elaborado. Aos trancos e barrancos, uma hora a coisa começa a andar.

FICHA TÉCNICA
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Chris Terrio e Joss Whedon
Elenco: Ben Affleck, Gal Gadot, Jason Momoa, Ezra Miller, Ray Fisher, Henry Cavill, Jeremy Irons, J.K. Simmons, Connie Nielsen, Amy Adams, Diane Lane, Amber Heard, Ciarán Hinds, Billy Crudup, Joe Morton, Jesse Eisenberg
Gênero: Aventura
Duração: 121 min

Barbara Demerov

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