Crítica: Love (2ª Temporada)

Crítica: Love (2ª Temporada)

Sexta-feira (10) estreou na Netflix a segunda temporada de Love, série criada por Judd Apatow. A primeira temporada, que continha um humor forte e contagioso, deixou seu foco em comédia para a segunda temporada ser explorada mais precisamente em cima do drama e das dificuldades do relacionamento entre Gus e Mickey, embora ainda contenha boas cenas desconfortáveis que nos provocam vários risos. O mais curioso é que, mesmo com a grande mudança de estilo, a série continua chamativa e cativante, principalmente por manter sua diversidade de personagens junto à suas individualidades atraentes.

Os protagonistas continuam sendo os mesmos, sem possuir muitas mudanças em suas personalidades – o que é ótimo para transmitir a mesma reação amplamente conquistada com a primeira temporada. Os roteiristas trabalharam bem e souberam desenvolver os diálogos, as ações e os pensamentos dos personagens seguindo seus padrões de comportamento, e isso foi muito auxiliado pela interpretação dos talentosos atores. A naturalidade das conversas e das circunstâncias ainda permeiam o gênero da série, fazendo desta uma comédia romântica diferenciada. Em muitos momentos, Love é tão realista que chegamos a duvidar da existência de ensaios, e passamos acreditar que o grande ponto positivo dos episódios é o improviso nas falas dos personagens.

Após o imperfeito final da primeira temporada, a série dá sequência à complicada relação entre Mickey e Gus, que na nova temporada passam a ser mais indulgentes e menos orgulhosos, porém continuam a se desentender em vários episódios, o que prova que nenhum namoro (ou relação humana) é fácil de lidar, tendo seus altos e baixos. Aos poucos os dois tentam se entender e levar suas vidas para a frente, e mesmo sabendo que se gostam, decidem a princípio não se encontrar com tanta frequência, nem ao menos trocar mensagens, pois conhecem bem o potencial explosivo de suas personalidades contrastantes. Mas logo percebem que a única fuga para suas realidades solitárias e depressivas, é a química aleatória que possuem entre si, dando um ar emocionante ao seriado, e deixando qualquer expectador intrigado com seu enredo original e seu desenvolvimento imprevisível.

Algo que também notamos e relembramos logo de cara são os círculos sociais e os ambientes frequentados por Mickey e Gus, desde seus locais de trabalho e seus colegas atrapalhados, até suas reuniões com amigos, seja em seu apartamento para criar musicas-tema junto com seus amigos no caso de Gus, como em visitas a sua vizinha Syd no caso de Mickey. Essas relações prosperam em detrimento das cenas entre os protagonistas, o que em excesso não seria bom em nenhuma hipótese.

Paul Rust e Gillian Jacobs permanecem entregando ótimas performances. Principalmente quando estão juntos, demonstram uma química de atores pouco vista nas comédias românticas atuais. Ambos obtém sucesso ao interpretarem personagens tão complexos como Gus e Mickey, sendo ele um perfeccionista complacente cheio de autoestima, e ela uma dependente de sexo, drogas e amor que ao tempo todo busca ser feliz, mas que é sempre afetada por sua bipolaridade em momentos inesperados. Assim como todos nós, eles possuem defeitos, qualidades, dias bons, dias ruins, e a forma como isso é explorado na série, faz com que o público se identifique profundamente com suas características. O roteiro da série não leva crédito apenas pela intensa elaboração dos personagens, mas também pela apuração de seus diálogos genuínos.

Um dos episódios mais exultantes da segunda temporada é o quinto (Um Dia), onde os dois realizam aventuras inesperadas durante um dia, passeando e se conhecendo mais a fundo, enquanto passam a perder seus medos. Neste episódio é possível fisgar a ótima relação da dupla através dos diálogos, deixando claro que mesmo após 14 episódios (contando com os da primeira temporada), os dois ainda tem muito a compartilhar. Alguns personagens novos são incluídos na série, enquanto outros secundários já existentes são mais aprofundados ao longo dos episódios. Bertie, que já era a personagem secundária mais importante da série, se vê mais insegura com suas escolhas; e Chris, que já aparecia em alguns momentos na primeira temporada, foi talvez o personagem que mais ganhou destaque na segunda temporada, aparecendo bem mais do que antes. Infelizmente e previsivelmente, alguns personagens secundários deixaram de aparecer tanto para dar uma outra condução a história, alguns exemplos são Susan e Heidi, colegas de trabalho de Gus.

A série ainda traz a tona várias questões super relevantes numa relação amorosa entre duas pessoas, como o respeito para com as condições dependentes do parceiro (alcoolismo, etc), o apoio emocional necessário em qualquer momento, a importância de não julgar e não desconfiar, e a forte amizade que deve estar sempre presente. Outro ponto que chama a atenção, é a metalinguagem com o ato de se produzir uma série (Witchita), a qual Gus trabalha como professor de set de Arya. As dificuldades da produção, os imprevistos, os cargos e as funções de cada membro da equipe são bem definidas e bem exemplificadas, sendo realista em todos os sentidos, dando um pouco de conhecimento ao público que desconhece as fases de produção de um filme ou série.

No geral, a segunda temporada de Love é mais profunda e sensível que a primeira, e se você gostou da relação de Mickey e Gus da primeira temporada, com certeza vai se envolver emocionalmente com os encontros e desencontros que os novos episódios lhe proporcionará. Simplesmente esteja preparado(a) para cenas dramáticas e discussões realistas, e não espere tanto da comédia exagerada do ano passado.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.