Crítica: Marvel – O Justiceiro (1ª temporada)

Crítica: Marvel – O Justiceiro (1ª temporada)

Depois de todo mundo se apaixonar por Frank Castle (Jon Bernthal) na segunda temporada de Demolidor, uma série fresquinha de 13 episódios dedicada somente a ele finalmente estreou depois de muita espera e expectativa. Será que O Justiceiro é tudo aquilo que prometeram?

A trama se inicia alguns meses após o fim da segunda temporada de Demolidor. Frank está foragido e se escondendo atrás do nome “Pete Castiglione”, trabalhando como construtor. Seu principal objetivo continua sendo matar todos os responsáveis pelo brutal assassinato de toda sua família – e ele está mais nervoso do que nunca. Cada cena com Frank é como uma bomba relógio prestes a explodir, como se o próprio roteiro tivesse medo de seu personagem principal. A atuação de Jon Bernthal é tão crível que você se esquece que tudo pelo que seu personagem passou é apenas ficção.

Em meio a críticas ao serviço militar dos EUA, vários personagens novos e relacionamentos extremamente bem construídos, O Justiceiro é uma série da Marvel totalmente diferente de qualquer outra que já tenhamos visto. E muito mais violenta também.

Novos personagens

A série nos apresenta a alguns personagens novos, sendo os mais importantes Micro (Ebon Moss-Bachrach) e Dinah Madani (Amber Rose Revah). Micro é um gênio da tecnologia que foi obrigado a se foragir após querer expor o assassinato de um homem por militares. Para recuperar sua família e sua vida, ele tem de pedir a ajuda de Frank, o que acaba criando uma das melhores relações da série. Micro serve como alívio cômico em meio a uma série extremamente violenta, triste e pesada, sua relação com Frank rende belas risadas e nos apegamos ao personagem e sua causa quase de imediato.

Dinah Madani, por outro lado, é uma agente da CIA querendo desvendar o mesmo caso que Micro quer expor. Seu ex-parceiro é o homem que foi assassinado por militares e, sem a ajuda de ninguém da CIA, ela acaba tendo que fazer justiça do jeito dela. Apesar de parecer fria no início, ela se torna uma das personagens mais legais da série e se mostra mais parecida com Frank do que inicialmente pensávamos.

Já a estrela que rouba várias cenas é Billy Russo (Ben Barnes), que interpreta um amigo que serviu junto a Frank no serviço militar. Seu charme e sua frieza são assustadores, o que o transforma em um dos vilões mais perturbadores da Marvel. Suas motivações são integralmente humanas e superficiais. Ben Barnes nos dá um show de atuação em diversas cenas atuando de forma tão realista que é quase como se Billy tivesse dupla personalidade, de tão convincente que consegue ser.

Crítica ao serviço militar americano e TEPT

Uma das narrativas centrais da série é o Transtorno Estresse Pós Traumático de Frank, não só pelo assassinato de sua mulher e filhos como também pelo serviço prestado ao governo americano. A série lida com isso de forma magistral, sem romantismo e glamourização (como é muito comum em filmes de guerra Hollywoodianos). O Justiceiro nos mostra toda a sujeira por trás das guerras e como isso afeta os soldados de forma irreversível. Fica bem claro que, não importa quanto tempo passe, Frank terá de lidar com o que fez e o que foi feito com ele para o resto de sua vida.

Outro personagem que lida com o transtorno é Lewis (Daniel Webber), soldado que voltou da guerra e está perdendo a cabeça cada vez mais. Ele aparece em boa parte dos episódios, sempre tenso e desesperado, nunca encontrando uma saída para seu trauma. Ele procura conforto nas pessoas erradas e sua história acaba sendo tão triste quanto a do próprio Frank. Palmas para os roteiristas que tiveram coragem de escrever certas cenas de forma tão crua e brutal – algo que, na minha opinião, é necessário em uma série tão densa quanto essa.

Karen Page

Mais uma vez, Karen se mostra como a âncora de Frank. O relacionamento que os dois compartilham é tão doce que chega a doer quando, em uma cena específica e emocionante, vemos o quanto eles realmente significam um para o outro e o quanto realmente sofrem por não poderem compartilhar nada juntos por conta das circunstâncias que os cercam constantemente. Só vemos Frank agindo de forma doce e totalmente aberta com Karen, o que nos mostra um lado totalmente diferente do personagem e que eu queria ter visto mais durante a temporada. Karen foi usada em diversas campanhas de marketing para a série, portanto fiquei decepcionada pela pouca quantidade de cenas que ela acabou tendo. Acreditava que ela seria um ponto central da narrativa, mas espero que isso aconteça na próxima temporada.

Opinião final

No geral, gostei bastante de O Justiceiro. Talvez a série não tenha sido o que eu esperava, mas não de maneira ruim. A narrativa se alonga um pouco em monólogos sobre o passado, o que se torna algo cansativo em certas cenas, mas de forma alguma estraga os bons elementos. Apesar de algumas pessoas reclamarem da violência excessiva, eu acho que condiz com o que a história propõe e até é necessário de certa forma; nada foi gratuito. As atuações são maravilhosas e o desenvolvimento dos personagens melhor ainda.

Vale a pena dedicar 13 horas para a série e com certeza ela se torna fundamental para quem acompanha Demolidor. O que resta para Frank agora que ele tem uma vida (relativamente) livre? Depois de sofrer tantos socos junto com ele, acho que merecemos uma luz no fim do túnel para um dos personagens mais complexos do universo Marvel.


https://www.youtube.com/watch?v=6m3DvnsSxt8

Letícia Piroutek