Crítica: Medo Profundo

Crítica: Medo Profundo

Com incontáveis furos de roteiro e interpretações limitadas de Claire Holt e Mandy Moore, filme se vê “submerso” em cenas previsíveis e jump scares forçados

Como fã de bons filmes de tubarões como Mar Aberto (2003) ou Águas Rasas (2016), é triste ter que presenciar o mais evidente e preguiçoso método de produções do gênero tomando conta mais uma vez das telas de cinema. 47 Meters Down, ou como foi traduzido, Medo Profundo (não confunda com o filme de 2007 que leva o mesmo nome), não empolga durante seus 20 minutos iniciais, que parecem mais uma tentativa forçada de caracterizar as personagens principais da maneira menos elaborada possível.

Somente a partir do segundo ato do filme (quando as personagens se vêem presas na “jaula”), é que conseguimos nos simpatizar; não pelas suas atitudes ou pontos de vista, mas sim pelo simples fato de nos colocarmos no lugar de pessoas que estão prestes a morrer, o que faz dos primeiros 20 minutos mais do que desnecessários.

A história gira em torno de duas irmãs aventureiras (uma nem tanto) que resolvem experimentar um mergulho em jaula no meio de tubarões brancos. O problema é que a jaula se desprende do barco, e as duas, presas no fundo do mar, com pouco oxigênio e cercadas pelos predadores, precisam nadar 47 metros até a superfície se quiserem sobreviver. Comecemos por Lisa (Mandy Moore), uma mulher insegura que acabou de se separar de seu marido e resolve acompanhar sua irmã Kate (Claire Holt) nesta viagem ao México. Já Kate é a típica mulher destemida e independente, mas que claramente se preocupa com sua irmã. Ambas são personagens mal construídas, desenvolvidas apenas para servirem como corpos vivos lutando pela sobrevivência. Mandy Moore tenta em um momento ou outro trazer mais identidade à sua personagem, mas Claire Holt está completamente satisfeita com sua personagem tediosa.

O que mais me impressiona – e ao mesmo tempo decepciona – é que filme foi feito com 5,5 milhões de dólares, e, o que poderia parecer como maior dificuldade para a produção (efeitos visuais, efeitos sonoros e locação), não foi nem de longe o maior problema. O maior problema está naquilo em que quase não há despesas: o roteiro. Não há cuidado com as ações dos personagens, seus propósitos ou muito menos com a fidelidade dos acontecimentos. Erros de continuidade também chateiam.

A montagem de Martin Brinkler trabalha de maneira irregular. Ainda que em uma cena ou outra consiga causar uma intransparência dos cortes (um dos efeitos mais almejados da montagem), é visível a necessidade de aplicar-se em cima de jump scares bem previsíveis, estabelecendo o corte bem na hora do susto, que, junto aos efeitos sonoros altíssimos, consegue assustar o espectador – embora da maneira mais simples e “manjada” que conhecemos. Mark Silk, responsável pela direção de fotografia, acerta em belos enquadramentos dentro da água com suaves movimentos de câmera (destaque para a cena da piscina), mas divide a culpa com o diretor Johannes Roberts pela frequente quebra da regra dos 180 graus, que causa estranheza (não pretendida) no espectador, fazendo-o perder a noção espacial de forma estúpida e sem graça.

A direção de arte não peca na caracterização dos personagens e traz alguns objetos amarelos e azuis que brilham aos olhos do espectador, mas não se faz marcante de nenhuma forma. A trilha musical é possivelmente o único aspecto técnico acima da média. Tomandandy (que aqui faz um trabalho bem melhor que sua presença na terrível trilha de 7 Desejos) traz elementos de mistério, descoberta e pânico na trilha de Medo Profundo, que arrancam (mas não desafiam) o mínimo de interesse do público. Porém, assim como os outros elementos, a trilha sonora também comete seus erros. Principalmente ao forçar um nervosismo no espectador com efeitos de som incessantes que mais enjoam e afastam o espectador que qualquer outra coisa.

Johannes Roberts não acerta uma com seu roteiro pessimamente escrito, mas na direção, consegue entreter o espectador com algumas cenas carregadas de tensão, que facilmente nos faz sentir na pele das personagens. No fim, Medo Profundo pode sim ser um pequeno e reciclável divertimento capaz de te impactar por alguns minutos, mas fica devendo muito na veracidade de suas cenas. O filme demanda uma gigantesca suspensão da descrença do público, algo que obviamente não acontece os espectadores atentos, que por sua vez passam a se incomodar cada vez mais com as decisões deste bagunçado enredo.

FICHA TÉCNICA
Direção: Johannes Roberts
Roteiro:
Johannes Roberts, Ernest Riera
Elenco: Mandy Moore, Claire Holt, Santiago Segura, Yani Gellman, Matthew Modine, Chris J. Johnson
Produção: James Harris, Mark Lane
Fotografia: Mark Silk
Montagem: Martin Brinkler
Música: Tomandandy
Gênero:
Suspense / Terror
Duração: 101 min.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

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