Crítica: A Morte Te Dá Parabéns

Crítica: A Morte Te Dá Parabéns

24 anos depois do clássico Feitiço do Tempo (1993), ainda vemos filmes com essa premissa tão amada pelos cineastas: um mesmo dia que se repete inúmeras vezes. Essa forma de se contar uma história virou tão comum que já vimos incontáveis filmes desse estilo, inclusive recentes, como ARQ (2016), Antes Que Eu Vá (2017) e 2:22 (2017). Assim, um dos elementos mais variáveis dentro dessa premissa, é o próprio gênero do filme, que já foi explorado como comédia romântica, ficção científica, suspense, drama, e vários outros. O diferencial de A Morte Te Dá Parabéns, está no fato de abordar a repetição de um dia em que a protagonista é assassinada por alguém mascarado, e em seguida acorda na sua cama revivendo seu pesadelo. Essa temática de suspense com terror slasher faz do filme um dos únicos (senão o primeiro) do gênero a explorar o conhecido loop.

Através de trailers ou só pela própria premissa, supõe-se que o roteiro seria de enlouquecer, o que se confirma. Não necessariamente isso faz da nova produção de Jason Blum um mindfuck, mas previsivelmente é um filme que exige um pouco mais de atenção do seu público. No entanto, o longa abusa da sorte: desacreditar seu público e desviar de toda verossimilhança possível é sempre um problema grave para qualquer filme slasher, e A Morte Te Dá Parabéns não fica de fora dessa lista.

Conhecemos rapidamente nossa protagonista, Tree (Jessica Rothe), uma jovem estudante que trata mal os meninos, desdenha das amigas e não parece muito disposta a atender as ligações do pai no dia de seu aniversário. No fim do mesmo dia, no entanto, ela é brutalmente assassinada por um mascarado. Acontece que ela “sobrevive”, ou melhor, acorda no mesmo e fatídico dia, numa espécie de looping macabro, que termina sempre com a morte da garota. Repetir, seguidamente, o mesmo dia, por outro lado, dá a Tree a chance de investigar quem a quer morta e porquê.

A obra tem suas qualidades, a mais notável sendo a persuasiva interpretação de Jessica Rothe. A atriz não economiza para encarnar uma personagem detestável e repulsiva, passando, através da ironia de sua voz e de suas expressões faciais forçadas, todo o drama adolescente que além de caracterizar bem sua personagem, adiciona uma pitada de humor ao filme, que, a meu ver, não mescla bem com a proposta, evidenciando um dos furos do roteiro. O problema do roteiro se junta às péssimas atuações dos coadjuvantes e outros personagens secundários, gerando estranhamento com suas expressões e atitudes, muitas vezes sem sentido. Pessoalmente, fiquei o tempo todo me coçando na cadeira do cinema, afirmando para mim mesmo que faria tudo diferente do que fazia a protagonista.

A Morte Te Dá Parabéns é um filme para ver com expectativas baixas, esperando uma envolvente porém simples história, deixando de lado a plausibilidade de ações e circunstâncias. Nesse pretexto, a obra pode sem dúvidas ser divertida e conquistar algum efeito positivo de seus olhos. Talvez meu maior erro seja não ter feito isso, afetando minha experiência com o filme. Por outro lado, a produção gera um bom dinamismo com a montagem, e a fotografia (junto à direção) também traz alguns movimentos de câmera interessantes.

Lamentável (e revoltante) mesmo é a trilha musical do filme, que juntando músicas pop já conhecidas com uma trilha original composta por Bear McCreary, empurra para o expectador melodias apressadas, que pouco fazem sentido com as cenas em que são inseridas. O porém é que não são somente as músicas pop que decepcionam. Até a trilha de McCreary, compositor da tensa e eficiente trilha de Rua Cloverfield, 10 (2016), se mostra preguiçosa, recaindo em clichês do gênero e forçando um suspense que ainda não teve tempo de ser construído pelo roteiro.

Contudo, o filme pode sim ser visto com bons olhos, mas depende das decisões, expectativas e visão pessoal de cada expectador, o que não deveria depender. Não é difícil encontrar slashers recentes bem melhores que A Morte Te Dá Parabéns. Felizmente, por conta de sua originalidade, a obra passa longe de fracassos do gênero desse ano como 7 Desejos (2017) e Amityville – O Despertar (2017). O ingresso até pode valer pelo puro entretenimento e a competente protagonista, mas a verdadeira impressão que tive após os créditos começarem a subir, é que era muito melhor ter revisto Jessica Rothe e suas amigas cantando Someone In The Crowd em La La Land (2016)

FICHA TÉCNICA

Direção: Christopher B. Landon
Roteiro:
Scott Lobdell
Produção: Jason Blum
Elenco: Jessica Rothe, Israel Broussard, Ruby Modine, Rachel Matthews, Charles Aitken, Rob Mello, Phi Vu, Caleb Spillyards, Jason Bayle, Laura Clifton
Direção de Fotografia: Toby Oliver
Montagem: Gregory Plotkin
Música: Bear McCreary
Gênero:
Terror Slasher / Suspense
Duração: 96 min.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

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