Crítica: Passageiros

Crítica: Passageiros

Junte romance, aventura, ação, além de alguns elementos sci-fi, e você terá em suas mãos o tão divulgado filme Passageiros. Grandes produções baseadas no futuro é o que há em nosso século repleto de facilidades tecnológicas, porém são raros os blockbusters americanos que conseguem adequar uma história de amor à uma abordagem futurista, e neste filme, isso se concretiza de maneira gratificante. A mais nova obra do cineasta Morten Tyldum (diretor do famoso O Jogo da Imitação), é um prato cheio para quem vai ao cinema para se emocionar e ter diversas reações durante o filme; porém, pode decepcionar alguns espectadores exigentes que esperam uma costumeira ficção científica.


Provavelmente, o maior erro da produção foi o de associar o filme diretamente ao gênero de ficção científica, uma vez que a verdadeira trama gira em torno do relacionamento entre dois passageiros que abdicam de suas vidas na Terra para viver em um outro planeta, em que nessa viagem somos apresentados a sortidos componentes futuristas, nos remetendo, assim, à ficção científica. Embora os aspectos técnicos do filme sejam bem trabalhados, em minha opinião, a maior virtude da obra se encontra nos convidativos diálogos entre os personagens, ou na falta deles, em momentos que seus olhares e suas ações bastam para nos atrair, sendo para momentos dramáticos quanto para momentos vívidos e otimistas.

A chamativa sinopse gira em torno de uma nave viajando no espaço, onde dois passageiros são despertados 90 anos antes do tempo programado por causa de um mal funcionamento de suas cabines. Sozinhos, o engenheiro mecânico Jim Preston (Chris Pratt) e a escritora Aurora Lane (Jennifer Lawrence) começam a estreitar o seu relacionamento. Entretanto, a paz é ameaçada quando eles descobrem que a nave está correndo um sério risco por conta de vários erros funcionais e que eles são os únicos capazes de salvar os mais de cinco mil colegas em sono profundo.

Um dos ingredientes que mais nos chama a atenção é a reluzente fotografia de Rodrigo Prieto (que já trabalhou com nomes importantes como Martin Scorsese, Ang Lee, Alejandro González Iñárritu e Oliver Stone), cuja precisão em cores claras e ambientes iluminados não se perde em nenhum segundo. Paisagens do universo também tiram nosso fôlego, junto a muitos outros objetos de cenário que vislumbram nossos olhos, tornando Passageiros um filme visualmente encantador. Curiosamente, a obra mesmo com um elenco reduzido, sendo dois personagens principais e dois secundários (destaque para a ótima atuação de Michael Sheen como um android-barman chamado Arthur), fazem com que seja impossível se desligar do enredo tão bem construído pelo roteirista Jon Spaihts, nos provocando inúmeras sensações que vão da extrema angústia da solidão ao sincero conforto.

Além de todos esses pontos positivos, adivinhe o que ainda deixa o filme mais interessante? A cuidadosa trilha sonora composta pelo experiente Thomas Newman! Ela é responsável por conduzir demasiadamente bem o público envolta da adorável atmosfera que se desenvolve facilmente ao longo de quase duas horas de filme. A paleta de cores é muito bem elaborada, podendo ser interpretada como uma dominância de cores frias nos momentos em que Jim e Aurora se deparam com a solidão e imensidão da nave, mas também atrai o espectador com cores quentes como quando o casal se encontra com Arthur, denotando uma circunstância reconfortante, onde podem conversar e se sentir bem tratados.

Outra grande qualidade do filme são os questionamentos abundantes captados indiretamente pelo espectador, que através da percepção dos personagens, consegue gerar reflexões a partir dos acontecimentos, como em todo primeiro ato, em que somos encaminhados para os fortes sentimentos de solidão de Jim, que se desespera ao saber que provavelmente viverá sozinho por toda sua vida, reafirmando a necessidade do homem de viver em sociedade. Há também as etapas de falha de funcionamento dos androides e de toda tecnologia da nave, nos provocando indagações pertinentes, como até que ponto nós, humanos, podemos chegar ao construirmos robôs dotados de inteligência artificial e assistirmos de camarote os possíveis erros operacionais que podem colocar em jogo nossas próprias vidas.

Embora a narrativa seja interessante e as atuações de Chris Pratt e Jennifer Lawrence não deixem a desejar, o roteiro acaba errando feio na forma como caracteriza seus personagens, principalmente Jim, que mesmo sendo o protagonista e estando presente em todo o tempo de filme, poderia se conectar melhor com o público caso possuísse qualidades e defeitos mais evidentes. Porém, a obra continua mantendo sua qualidade mesmo que, infelizmente, encontre dificuldades em alcançar seu público, sendo na verdade um público convencional em busca apenas de alguns clichês e uma boa história para se lembrar durante a noite –  ou, quem sabe, durante a semana. Não somos levados a ter uma experiência marcante diante da telona, pois a obra é a perfeita definição de “divertimento previsível”, que não surpreende, mas agrada.

FICHA TÉCNICA
Direção: Morten Tyldum
Roteiro:
Jon Spaihts
Elenco: Jennifer Lawrence, Chris Pratt, Michael Sheen, Lawrence Fishburne, Andy Garcia, Aurora Perrineau Produção: Neal H. Moritz, Stephen Hamel, Michael Maher, Ori Marmur
Fotografia: Rodrigo Prieto
Trilha Sonora: Thomas Newman
Montagem: Maryann Brandon
Gênero: Romance / Aventura Sci-Fi
Duração: 116 min.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

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