Crítica: Resident Evil 6 – O Capítulo Final

Crítica: Resident Evil 6 – O Capítulo Final

Paul W.S. Anderson, diretor de Resident Evil 6: O Capítulo Final e outros três capítulos da franquia, não é exatamente conhecido por sua habilidade com dramaturgia. Desde que despontou com a primeira adaptação de Mortal Kombat para os cinemas, Anderson desenvolveu uma reputação como um diretor de ação e filmes B, admirador assumido dos trabalhos do mestre Roger Corman, que possibilitou a distribuição de seu primeiro longa, Shopping: O Alvo do Crime, nos Estados Unidos. A franquia Resident Evil, por sua vez, é a única entre o vasto mar de adaptações que obteve um maior sucesso com o público, e agora promete sua conclusão neste sexto capítulo. A boa notícia: o longa tira proveito completo da alma trash de Anderson e encerra a franquia atual com revelações interessantes. A má notícia: quem já não tinha apreço pela série cinematográfica não terá aqui a sua conversão, nem o espectador que espera algo a mais que uma barragem ininterrupta de ação e pirotecnia, aqui mais frenética do que nunca.

O longa, que oferece uma recapitulação ao início para os desavisados, tem seu início após os eventos do quinto filme, Retribuição, com a heroína Alice em busca de uma solução para o cataclismo causado pela corporação Umbrella, que dizimou a maior parte da população mundial com seu T-Vírus. Em ritmo constantemente acelerado, Alice enfrenta monstros, zumbis, humanos e mais monstros enquanto segue seu caminho para a Colmeia, laboratório que supostamente contém uma amostra do antivírus que poderia salvar a humanidade de seu fim. Não é alta arte e Anderson sabe muito bem disso.

Milla Jovovich, que encabeçou o elenco de todos os longas da série, está carismática como sempre no papel de Alice, mas novamente não recebe um espaço condizente com sua habilidade para articular a personalidade de sua protagonista (apesar de que, neste capítulo, a personagem descubra importantes verdades sobre sua real identidade). Outros membros do elenco recebem papéis ainda mais anêmicos, com a grande maioria limitada a “bucha de canhão” (ou melhor, prato feito para os zumbis). Até mesmo Ali Larter, que retorna como Claire Redfield, uma das personagens mais amadas dos jogos, continua com a presença de cena de uma porta, enquanto a carismática Ruby Rose, que esteve no último Triplo X e fará uma participação em John Wick 2, é literalmente ventilada para fora do longa sem nem completar 1 minuto de cena no total. Outros personagens icônicos do material original, como Chris Redfield e Jill Valentine, estranhamente não deixam sinal de vida, o que deixa um forte sentimento de decepção para os que esperavam grandes embates entre um time all-star.

Com a boa fotografia 3D de Glen McPherson, de Retribuição (5) e Recomeço (4), Anderson novamente mostra que entende bem o uso da técnica, que aqui não é tão deliciosamente apelativa como no quarto capítulo mas também apresenta uma estereoscopia detalhada em planos mais abertos. Entretanto, com a montagem de Doobie White, colaborador da dupla Neveldine/Taylor em Adrenalina e Gamer, Anderson toma decisões estéticas arriscadas que ameaçam descarrilhar o longa em diversos momentos, porque enquanto não há nada de errado com a estrutura narrativa em si, a edição momentânea da ação é demasiadamente acelerada, chegando a criar um tipo de anestesia mental (e não no bom sentido). Uma pena, pois um dos principais pontos fortes do diretor era a clareza na ação, principalmente em Recomeço, um de meus favoritos da franquia (sim, eu sei…). Outro elemento que faz falta é uma trilha da ótima dupla Tomandandy, que compuseram faixas empolgantes para diversas das cenas de ação dos dois capítulos anteriores, mas aqui são substituídos pelo menos ousado Paul Haslinger, que também colaborou com Anderson em longas anteriores como Corrida Mortal e Os Três Mosqueteiros. Ainda assim, o ritmo acelerado da história e a boa coreografia das muitas lutas de O Capítulo Final mantém um bom nível de coerência pela maior parte do tempo, segurando a atenção do público.

Mas e a conclusão da história? Bem, de certa maneira ela existe aqui, porém deixando algumas frestas para possíveis filmes adicionais. Ainda assim, há uma série de surpresas e explicações que cobrem (muitos dos) furos deixados pelos capítulos anteriores, cada um mais insano que o outro. Devo admitir que, apesar dos problemas todos, é, sim, gratificante testemunhar o fim de uma franquia que, desde 2002, tem mantido a admiração de muitos pelo talento B de diretores como Paul W.S. Anderson. Com a estreia do filme na mesma semana em que chega às lojas o ótimo reboot Resident Evil 7: biohazard, cuja crítica você pode conferir aqui, são promissores novos tempos para a querida franquia, que ainda guarda muitas boas surpresas para os fãs.

FICHA TÉCNICA
Direção: 
Paul W.S. Anderson
Roteiro: Paul W.S. Anderson
Elenco: Milla Jovovich, Iain Glen, Shawn Roberts, Ali Larter, Ruby Rose, Ever Gabo Anderson
Produção: Paul W.S. Anderson, Jeremy Bolt, Samuel Hadida, Robert Kulzer
Fotografia: Glen McPherson
Montagem: Doobie White
Duração: 106 min
Distribuição: Sony
Gênero:  Terror / Ação

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

Um comentário em “Crítica: Resident Evil 6 – O Capítulo Final

Comentários estão encerrado.