Crítica: Sexy por Acidente

Crítica: Sexy por Acidente

A dor na insegurança e o poder da confiança

Imagem de Sexy por Acidente

Além de ser dona de muitos prêmios, a comediante Amy Schumer já foi nomeada pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo. É inegável que Schumer tem seus méritos e talento, seja por suas apresentações stand-up, televisão, teatro ou cinema. Como comediante stand-up e em seu programa Inside Amy Schumer, encontramos seu melhor: livre, esperta e selvagem, além de ótima roteirista. Já na tela grande, a atriz se apresenta de forma mais irregular. Não é difícil afirmar que Sexy por Acidente seja seu melhor filme como protagonista, mas também é simples notar que seus projetos anteriores Descompensada e Viagem das Loucas são, respectivamente, um filme fraco e o outro ruim.

Sexy por Acidente conta a história de Renee (Schumer), uma mulher muito insegura em relação a sua forma física. Após bater a cabeça com força em uma aula de spinning, ela recobra a consciência e, ao se ver no espelho, vê o corpo que sempre desejou, ganha confiança e vai atrás do emprego dos seus sonhos.

O primeiro aspecto a ser notado durante o filme é que, apesar de ser divulgado e comercializado como uma comédia, na realidade Sexy por Acidente está mais para uma comédia dramática – até mais dramática do que aparenta. A trilha sonora não deixa mentir. Isso pode ser um problema se o espectador for ao cinema pensando em ver um filme para rir bastante. Não vai, pois o filme raramente consegue ser engraçado de verdade.

As cadeiras de diretor aqui são ocupadas pela dupla Abby Kohn e Marc Silverstein, ambos debutando no cargo. Os dois são previamente conhecidos como roteiristas de comédias românticas como Nunca Fui Beijada, Ele Não Está Tão a Fim de Você e Idas e Vindas do Amor. Nesta leva de filmes, já mostravam pouca capacidade em ir além do protocolar – são histórias que, mesmo carismáticas, aparentam e soam preciosamente formatadas, consequentemente, genéricas. Em Sexy por Acidente, a mesma regra. Um roteiro de situações e tratamento previsíveis em praticamente toda sua extensão, com um ou outro momento de maior arrojamento (como a cena de Renee passando perto de uma construção) e pouquíssimas tiradas cômicas de efeito.

Sexy por Acidente tem sido comparado ao filme O Amor É Cego, dos irmãos Farrelly. Por alguns pontos, uma comparação justificada. Apenas que o diferencial está aí: os próprios irmãos Farrelly. Mesmo em comédias românticas adocicadas, a injeção de hábil humor, seja este do tipo afiado ou abilolado, contribui para o tratamento geral do enredo, imbuindo-o com romance e até drama. Nisso, os irmãos Farrelly se mostraram acima da média, tornando-se referência nos anos 90. Por ora, os burocráticos Abby Kohn e Marc Silverstein não pertencem à mesma classe em que se encontram os Farrelly, mas nada os impede de chegar lá. Fica a torcida.

No elenco, duas atrizes merecem maior destaque: Schumer, carismática e afinada no humor, além de conseguir comover em algumas de suas cenas mais dramáticas (geralmente, as que se encontra em frente ao espelho); e principalmente Michelle Williams, em uma atuação propositalmente caricatural como a CEO da empresa de cosméticos onde a personagem de Schumer consegue um emprego. O elenco ainda conta com Emily Ratajkowski e o comediante Rory Scovel.

Lá fora, o filme acumulou algumas controvérsias, sendo acusado de gordofobia, seja pelas piadas ou por simplesmente estigmatizar com estereótipos. Levando em consideração os (piegas) dez minutos finais do filme, tal ideia soa mais como uma relutância puritana em compreender as contradições em trânsito no desenvolvimento do amadurecimento mental e emocional nas pessoas. Em Sexy por Acidente, devido a previsibilidade do enredo, ficam claras suas intenções de exaltação ao amor próprio – ou melhor, desde o trailer!

Assim, tais controvérsias parecem deslocadas, até porque um dos maiores méritos do filme é universalizar o sentimento de insegurança. O roteiro de Kohn e Silverstein acerta em não restringir este sentimento apenas à personagem de Schumer. No filme, tanto a modelo de capa de revista (Ratajkowski) quanto a mulher rica e bem sucedida (Williams) também sentem a mesma insegurança que a protagonista. E assim como ela, precisam sentir que a confiança necessita de lapidação, sendo desenvolvida na relação entre pessoas. É perceptível que Sexy por Acidente não seja um filme inspirado, mas ele pode ser, sim, inspirador. Como o filme prega, isso pode ser mais que o suficiente.

Alexis Thunderduck