Crítica: Tallulah

Crítica: Tallulah

Ellen Page, vida complicada, um filho. Possivelmente você já viu tudo isso em um filme, Juno (2007). Mas com essa nova atração original Netflix você ficará de frente para uma história completamente diferente, com mais ação e menos comédia, além de uma carga emocional consideravelmente intensa.

Ellen Page interpreta Tallulah, uma garota pobre, recém deixada pelo namorado, que faz de tudo para conseguir dinheiro e levar sua vida, inclusive roubar. Até que é confundida com uma camareira por Carolyn (Tammy Blanchard), uma instável residente de um prédio. O problema vem quando Tallulah percebe que Carolyn tem sérios problemas de auto estima e possui uma filha de 1 ano de idade, que em meio a uma casa desarrumada e uma mãe despreocupada, vive em situações precárias, se não devastadoras.

Tallulah, enquanto fica de babá, decide então roubar a criança e dar mais atenção a ela. Pouco tempo depois, decide levá-la para a casa de Margo (Allison Janney), mãe de seu ex-namorado. Lá, cria-se uma sensível amizade entre duas mulheres que sofrem com seus problemas e buscam uma forma de amenizar a correria da vida, mas que acabam tornando-a mais difícil com a presença da pequena criança, que de uma forma ou de outra, traz também para a casa muito amor e otimismo.

Enquanto isso, Carolyn fica cada vez mais nervosa e preocupada com o desaparecimento de sua filha. Com a ajuda da polícia, fará o que for preciso para encontrá-la, o que dá uma boa narrativa secundária para o filme, com destaque para a interpretação da atriz Tammy Blanchard.

O principal problema do filme é deixar-se cair em momentos monótonos e insignificantes, apresentando diversas cenas desnecessárias que não fazem nenhuma diferença para a caracterização dos personagens, muito menos para o enredo.

A diretora (e também roteirista) nos presenteia com ótimos momentos cômicos, com um humor definitivamente diferenciado, mas que não é explorado de forma convincente ou relevante. Margo passa a ter uma constante postura de avó experiente da criança, ou mãe ensinadora de Tallulah, que chega a ser imatura quase todo o tempo com seus modos nada educados e suas ações espontâneas.

Em pouco tempo, o filme começa a se tornar uma jornada de auto conhecimento de todos os personagens, que não sabem o que desejam, ou mesmo quem realmente são. É um filme bonito sobre a vida, suas complicações e desencontros; isso torna a obra realista e cotidiana, mas nada além disso.

Usufruindo de um roteiro lento, o drama mostra-se cansativo na maioria das vezes, que dificilmente leva ao espectador alguma cena importante que possa ser lembrada ao fim do filme. Mas que é suficiente para quem procura atuações aceitáveis e uma história interessante, que nos faz sentir pena e torcer pela sequestradora.

O filme deixa a desejar também na construção de alguns personagens masculinos secundários como Manuel, o porteiro do prédio de Margo, e Nico, o ex-namorado de Tallulah e filho de Margo. Personagens que a princípio possuem todos aspectos necessários para serem percorridos com naturalidade, porém ficam guardados na prateleira mais suja e escondida da biblioteca.

Contudo, Tallulah não se encontra como um filme ruim. Pode render algumas lágrimas, sorrisos e até risadas, e o final te deixa com um gostinho de quero mais. O filme está disponível na Netflix e pode ser conferido a qualquer momento!

FICHA TÉCNICA
Direção e Roteiro: Sian Heder
Elenco: Ellen Page, Allison Janney, Tammy Blanchard, Felix Solis, Evan Jonigkeit, David Zayas, Uzo Aduba
Direção de Fotografia: Paula Huidobro
Produção: Heather Rae, Todd Traina, Chris Columbus
Direção de Arte: Katie Hickman
Duração: 111 min.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.