Crítica: Tio Drew

Crítica: Tio Drew

Comédia estrelada por lendas da NBA segue fórmula batida, mas agrada fãs do esporte

Imagem do filme Tio Drew

Em 2012, uma campanha publicitária da Pepsi estrelada pelo astro da NBA Kyrie Irving viralizou na internet. No vídeo, o atleta aparece disfarçado como um senhor de cabelos e barbas brancas que, ao desafiar praticantes de basquete numa quadra de rua, surpreende pela habilidade e disposição, deixando os mais jovens comendo poeira.

Este personagem simpático agora ganha as telas do cinema em um longa-metragem batizado com seu nome. Tio Drew tem não apenas a volta de Irving (hoje jogador dos Boston Celtics), como traz um “dream team” de ex-craques norte-americanos: Shaquille O’Neal, Chris Webber, Reggie Miller, Nate Robinson e Lisa Leslie, representante da WNBA. Todos devidamente escondidos por quilos de maquiagem, de forma a parecerem um time de octogenários.

É claro que a grande atração, principalmente para os fãs do esporte da bola laranja, é ver esta turma reunida e o desfile de piadas internas – Shaq é o alvo principal, com referências à sua falta de habilidade no lance livre e a rivalidade com Kobe Bryant. Porém, até chegar ao clímax o filme precisa desenvolver uma história. E isto é feito da forma mais básica possível. Conhecemos o protagonista, Dax (Lil Rel Howery, de ‘Corra!’), apaixonado por basquete e obcecado pela conquista do Rucker Classic, tradicional competição amadora que acontece anualmente em Nova York. Para seu azar, às vésperas do torneio ele perde seu principal jogador para o técnico rival (Nick Kroll, hilário).

Com um trauma de infância que lhe impede de jogar, mas vendo no prêmio dado ao vencedor da Rucker o único jeito de se livrar das dívidas, Dax recorre ao lendário Tio Drew, figura cuja reputação perdura décadas, mesmo após seu misterioso desaparecimento. Quando finalmente o encontra, Drew diz só topar entrar em quadro caso possa reunir o velho time novamente. O roteiro segue então a fórmula bastante conhecida de uma jornada de recrutamento, no qual em cada parada vamos conhecendo um novo personagem, seu universo atual e relação com os antigos companheiros.

Ao optar por este modelo já visto diversas vezes antes, o roteiro escrito por Jay Longino torna-se um pouco repetitivo. O curioso é que os atletas demonstram tanto carisma em cena que é possível imaginá-los fazendo até melhor se a proposta do diretor Charles Stone III fosse ir além do básico. Kyrie Irving, por exemplo, segura as pontas mesmo nos momentos dramáticos, revestindo sua performance com um toque de melancolia, o que adiciona uma camada de humanidade ao personagem, no fundo um sujeito solitário e saudoso de sua época de ouro.

Na combinação de comédia estrelada por personagens da terceira idade e filmes sobre torneios esportivos, o longa às vezes passa a impressão de que seu elenco está se divertindo mais do que o público. Para quem cresceu acostumado a ver pela TV estas feras brilharem em batalhas épicas na NBA, o prazer de vê-los em versões descontraídas deles mesmos já é suficiente para arrancar alguns sorrisos satisfeitos.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil