Crítica: A Última Ressaca do Ano

Crítica: A Última Ressaca do Ano

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Existem três tipos de comédia atualmente recorrentes no cinema americano: as que esbanjam personalidade e com ela sustentam até o mais formulaico dos materiais, como Vizinhos e Anjos da Lei; as agressivamente medíocres, como Quero Matar Meu Chefe e Um Espião e Meio; e por fim, o que quer que seja que Adam Sandler, Tyler Perry e os Wayans estejam produzindo. A Última Ressaca do Ano, que desde seu primeiro trailer criou expectativas de uma hilariante comédia de fim de ano, acaba, infelizmente, se encaixando na parcela mais fraca da segunda categoria mencionada.

Dirigido por Josh Gordon e Will Speck, do maravilhosamente estúpido Escorregando para a Glória, o longa gradualmente ao longo de seu percurso se demonstra cada vez menos inclinado a trazer situações originais ou minimamente engraçadas. Caso fosse lançado na década passada, talvez pudesse ter se tornado um modesto hit do gênero, mas após tantos projetos de estúdio que seguem a mesma exata fórmula e sem arriscar em absolutamente nada, A Última Ressaca do Ano acaba por ser apenas um mero produto, preenchendo uma habitual checklist sem muito sinal de alma ou originalidade.

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No enredo, um grupo de funcionários de uma grande empresa planeja uma grande festa mista de Natal/Hannukah/e outras celebrações após descobrirem o iminente fechamento de sua filial. Com o intuito de salvar os colegas da demissão, convidam um importante figurão de outra empresa para o evento, para convencê-lo a fechar um acordo milionário que pode tirar todos do vermelho. O grande e variado elenco, que inclui T.J. Miller, Jason Bateman, Kate McKinnon, Karan Soni, entre outros, então participa de inúmeras situações bizarras quando a festa toma proporções praticamente apocalípticas. Montagens musicais, drogas e subplots desnecessárias abundam. No fim de tudo, nenhum componente do elenco brilha, mas também não se comprometem. Apenas ficam bastante aquém do conhecido potencial cômico que tem (inclusive o recentemente premiado Courtney B. Vance, que recebe aqui um papel limitado e ingrato, aparecendo apenas para conferir um prestígio a mais ao longa).

Tecnicamente funcional, seguindo o padrão da maioria das comédias de grande estúdio, o grande problema encontra-se realmente no roteiro, escrito a doze mãos (duas para cada roteirista, creio eu), que falha em sua busca por comicidade  em situações e personagens que poderiam facilmente render pomposas risadas, caso estivessem nas mãos de autores mais flexionados no gênero. É o típico filme de comitê, com a já mencionada checklist, feito para movimentar algum dinheiro nas bilheterias, com resultados cada vez menos favoráveis. Pior ainda, além das típicas running gags obviamente telegrafadas desde o início da projeção (e.g.: a piada com a ponte levadiça ou o aplicativo em criação pela personagem de Olivia Munn), os roteiristas desistem completamente de sua premissa inicial e criam um terceiro ato forçado e cheio de acasos que, caso fizessem parte de um longa melhor, seriam mais fáceis de ignorar. Nunca pensei que A Última Ressaca do Ano iria de uma festa orgiástica de natal na firma para uma comédia de ação sobre o sequestro de um CEO, vestido de Papai Noel, por mafiosos russos. E se tudo isso soa hilário a você, leitor, acredite: não é.

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Um ponto positivo que devo ressaltar é a participação bastante ativa de parte do núcleo feminino do elenco, que além de McKinnon e seu habitual dom de dominar cenas, tem também Jennifer Aniston como uma chefona pé-na-porta, Olivia Munn como uma hacker hábil com um raciocínio veloz e Jillian Bell, ótima em Anjos da Lei 2, como uma mafiosa por vezes doce e por outras imprevisivelmente violenta. Infelizmente o resto das intérpretes não tem muito o que fazer, com Vanessa Bayer e sua trama limitadas a girar em torno de encontrar um homem para si, enquanto as comprovadamente talentosas Jamie Chung e Abbey Lee (que esteve em Demônio de Neon) são usadas apenas de decoração.

Ao fim, A Última Ressaca do Ano prova-se extremamente insatisfatória. Há diversas tentativas de ousadia que acabam sendo mais juvenis do que realmente provocadoras,  sem contar que a falta de personalidade na execução torna sua apreciação excruciantemente difícil para o espectador. É como ir a uma grande festa, repleta das mais diversas bebidas e recursos imagináveis, mas sem a presença de seus amigos mais especiais. Tecnicamente está tudo lá, menos a alma e, portanto, a diversão. O longa de Gordon/Speck quis #sextar, mas acabou tendo muito mais em comum com uma ressaca de domingo.

FICHA TÉCNICA
Direção: 
Josh Gordon, Will Speck
Roteiro: Laura Solon, Justin Malen, Dan Mazer, Jon Lucas, Scott Moore, Timothy Dowling
Elenco: Jason Bateman, Jennifer Aniston, T.J. Miller, Kate McKinnon, Olivia Munn, Courtney B. Vance
Produção: Guymon Casady, Daniel Rappaport, Scott Stuber
Fotografia: Jeff Cutter
Montagem: Jeff Groth, Evan Henke
Trilha Sonora: Theodore Shapiro
Duração: 105 min
Gênero:  Comédia    

 

 

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.