Crítica: Vingança a Sangue Frio

Crítica: Vingança a Sangue Frio

O prazer e a ironia da vingança

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Estamos acostumados a ver Liam Neeson interpretando matadores frios em papéis semelhantes, mas acredite, isso não nos preparou o suficiente para a comicidade que segue seu personagem em Vingança a Sangue Frio. Embora seja um personagem que não foge muito desse padrão, o tom humorístico do filme faz com que todas cenas de ação sejam vistas de outra forma, sem que a maioria das mortes possuam tanto significado para a trama. Aqui, mais interessa como as pessoas morrem, do que quem morre.

A história segue Nels (Liam Neeson), um pacato motorista de um limpador de neve que vive com sua esposa Grace (Laura Dern) e seu filho Kyle (Micheál Richardson) em uma casa afastada na pequena Kehoe, município do Colorado. Logo após ser eleito Cidadão do Ano da cidade, Nels descobre que seu filho foi assassinado a mando de um poderoso e impiedoso traficante chamado Viking (Tom Bateman). É quando Nels coloca todas suas cartas em jogo para vingar a morte de seu filho. Isso inclue matar todos aqueles que tiveram alguma ligação com o assassinato. Nisso, a trama divide seu enredo nos apresentando personagens secundários, subtramas (algumas desnecessárias) que acrescentam de maneira significativa e cômica.

De cara questionamos o processo de luto de Nels e Grace, assim como notamos outras inverossimilhanças, mas logo percebemos que a comicidade é o que faz toda engrenagem do filme girar. Embora as cenas de ação sejam simples, muitas vezes até omissas por cortes, nos interessamos pela busca de vingança de Nels desde o primeiro momento, enquanto pegamos raiva pelo comportamento repulsivo do traficante com seu filho, sua ex-esposa e seus guarda-costas. Inclusive, outro ponto positivo do filme são as ótimas interpretações da maioria dos atores, com um destaque especial para Tom Bateman que transmite o pior da frieza e da antipatia, e para Emmy Rossum, que interpreta uma ousada e otimista policial local.

No meio de muita neve e drogas, não é fácil absorver o roteiro de maneira imediata. O humor parece atrapalhar a credibilidade dos acontecimentos (e atrapalha muitas vezes). Mas conforme vamos nos entregando a proposta do filme, conseguimos comprar seu tom irônico. As músicas da obra, tanto compostas exclusivamente para o filme quanto as faixas da soundtrack, caminham junto com humor do filme, satirizando as atitudes, diálogos e situações criadas pelo roteiro. Por debaixo dos panos, não temos cenas repletas de adrenalina, mas alguns momentos impressionam por sua sensibilidade contagiante.

Dissertando de longe sobre nosso espírito vingativo e nosso egoísmo, enquanto nos entretém com mortes e bom humor, Vingança a Sangue Frio é um brinde e ao mesmo tempo uma crítica às situações desconfortáveis do cotidiano. A fina camada de drama nos faz refletir sobre os acidentes do dia a dia, a lealdade de pessoas próximas a nós, e a forma como cada um sabe processar uma perda.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.