Entrevista com Karin Viard, de Lolo – O Filho da Minha Namorada

Gosta de filmes franceses? Se a resposta for sim, uma dica mais do que especial é o filme Lolo – O Filho da Minha Namorada, que estreou ontem (25) e é dirigido e roteirizado por Julie Delpy (da trilogia Antes do Amanhecer).

Abaixo, você pode conferir a entrevista com uma das personagens do filme, Ariane, que é interpretada pela atriz Karin Viard.

É a segunda vez que você trabalha com Julie Delpy.

Eu só tive um dia de filmagens em O Verão do Skylab. Senti vontade de explorar outro território com ela – de aprofundar mais as coisas.

A personagem que você interpreta em Lolo – O Filho da Minha Namorada já viu de tudo…

Ela é confiante, uma mulher liberada, é muito verdadeira, particularmente no que se refere a sexo. Ela não se conforma com as expectativas da sociedade – conhecer alguém, morar com alguém, se casar… Ela é criativa e emancipada – ela é muito diferente de Violette, para quem ela serve como um catalisador. Em seus filmes, Julie sempre precisa de um contraponto para os personagens que ela interpreta. Em Lolo – O Filho da Minha Namorada, nós somos um pouco como Thelma e Louise – embora eu tenha um papel coadjuvante, não senti como se fosse um contraste. Nenhuma é superior em relação à outra.

Não é comum você fazer papéis coadjuvantes.

Julie escreveu a personagem para mim. O papel foi divertido de fazer e, o mais importante, eu adoro os filmes da Julie. Eu admiro a carreira dela como mulher, como atriz, como roteirista e diretora – como Maïwenn ou Josiane Balasko antes dela, ela conseguiu chegar até o topo. Eu sinto muita admiração por esse tipo de mulher – elas defendem os valores feministas e isso é importante para mim. Elas são corajosas, inteligentes e perceptivas e é por isso que gosto delas. Elas são lutadoras. Eu adoraria fazer um papel principal em um dos filmes de Julie.

Embora pareça ser uma comédia romântica leve, Lolo – O Filho da Minha Namorada aborda questões muito contemporâneas.

Qual é o papel da sexualidade nas vidas das mulheres de 45 anos? Qual é o papel dos homens quando essas mulheres já têm filhos? Como você pode ter privacidade com um filho tóxico? O filme lida com todas essas questões com muita sagacidade. Julie sempre retrata situações verdadeiras da vida, até as mais loucas e estapafúrdias. Julie não está tentando “entregar” a todo custo – ela não está tentando fazer piadas só pelo prazer da piada. Ela prefere deixar o humor transparecer sem esforço.

Como você trabalha com ela (Julie)?

Com leveza e sem afetação. No set, diretoras costumam ter que se defender para exercer sua autoridade. Não a Julie. Ela nasceu ansiosa, obsessiva e hipocondríaca, mas não incomoda o elenco e a equipe com isso e até nos encoraja a debochar dela. É muito reconfortante. A Julie não é uma diretora que faz seus colaboradores ficarem ainda mais estressados. Ela inspira confiança. Com ela, nós não temos que fazer muitas leituras nem ensaiamos muito – ao invés disso, ela valoriza o frescor do momento e a alegria de fazer um projeto juntos.

O quanto os figurinos são importantes para ela?

Muito, especialmente num filme como Lolo – O Filho da Minha Namorada, que lida com alta costura. Julie sabia exatamente o que queria vestir – calças com sobretudos grandes e coisas do tipo. Mas isso não se encaixava comigo. O figurinista concordou. Julie imediatamente concordou com o nosso ponto de vista. “Tudo bem, o que você sugere então?”, ela perguntou. Ela não é teimosa e não fica travando uma luta por poder.

Julie dá instruções específicas?

Ela sabe o que quer, ela tomas as decisões finais, mas é totalmente aberta a sugestões do elenco e da equipe – ela é muito colaborativa. Alguns diretores se sentem vulneráveis quando os atores dão opiniões. Eles gostam quando os atores são como uma argila que eles podem moldar e isso é desafiador para alguém como eu. Eu gosto de ser dirigida e de fazer o que me pedem para fazer – minha única ambição é agradar ao diretor – mas eu não gosto de ser mandada. Não consigo. Eu preciso expressar o que sinto e deixar claro quando tem algo numa cena que não entendi. Sou apaixonada pelo meu trabalho, adoro fantasiar sobre os papéis e interiorizá-los. Se alguém me pede apenas para obedecer, é uma pena. Julie Delpy é o exato oposto.

A sensação que dá é de que vocês duas são espíritos livres.

Nós não gostamos de enrolação e dizemos o que pensamos. O set de Lolo – O Filho da Minha Namorada tinha uma atmosfera familiar. A Julie inspira isso. Todos entram na dela.

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