O Cinema é arte aberta a interpretações

O Cinema é arte aberta a interpretações

E nem o Oscar define, de fato, o que é um excelente filme

No dia 26 de fevereiro aconteceu o Oscar, cerimônia realizada para premiar os melhores atores, técnicos e filmes segundo os associados da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. E, neste ano, o grande vencedor da noite foi Moonlight: Sob a Luz do Luar, um excelente longa que fala, antes de tudo, sobre autoconhecimento. Além de Moonlight, outros grandes filmes foram indicados ao Oscar, como: Estrelas Além do Tempo, Um Limite Entre Nós, A Chegada e La La Land, o favorito da noite.

Nós sabemos que cada pessoa torce para que o seu filme favorito leve a estatueta para casa, mas o que aconteceu nas redes sociais foi uma enorme discussão: de um lado, pessoas que amaram a vitória de Moonlight. Do outro, pessoas que acharam uma injustiça La La Land não ficar com o Oscar de Melhor Filme. E tinham até aqueles que não se conformaram do prêmio ser entregue para um filme que possui um elenco composto por atores negros (esse, definitivamente, é o pior grupo).

Eu concordo que discussões são essenciais quando se trata de cinema, mas e quando os argumentos extrapolam e se tornam opiniões ofensivas? Moonlight recebeu comentários terríveis, como: “não merece ganhar prêmio, é filme de parada gay”, e alguns ainda ousaram dizer que o longa foi escolhido apenas por “cota”, já que em 2016 aconteceu a polêmica do Oscar So White. Já La La Land também vem recebendo certo ódio gratuito de quem não aceita que o musical tenha todo esse reconhecimento da crítica e do público. No meio disso tudo, há pessoas que não sabem discutir de forma alguma e, por isso, impõem os seus critérios (na cabeça desses seres humanos, os que não concordam com a sua ideologia estão errados e não entendem de cinema). Essa é a típica pessoa que não sabe ouvir os outros e se recusa a acreditar que cada um possui uma visão particular em relação à obra.

Tudo isso me faz questionar: afinal, quem define o que é um bom filme? Eu acredito que assistir e sentir o que uma história deseja nos passar é algo muito pessoal – por isso que as críticas variam tanto de um site para outro. Como somos pessoas diferentes e com experiências de vidas distintas, podemos compreender o mesmo filme de inúmeras maneiras. Muitas vezes, aquele longa que conversa diretamente comigo, não significa muita coisa para você. E tudo bem, não há problema nisso. Ninguém tem o direito de querer a todo custo mudar os seus sentimentos sobre uma obra que, para você, é quase uma viagem transcendental a cada cena. Filmes contam histórias. Histórias que, em sua grande maioria, possuem a finalidade de nos tocar (às vezes de nos divertir também, sem muita pretensão de ser culto). Há diversos filmes no mundo para diversas pessoas no mundo. E é de extrema importância entender isso. A sua opinião não é lei. Repita isso várias vezes e abra a cabeça, escute as pessoas.

Cinema é arte. E, sendo arte, é algo relativo e aberto a interpretações. Essa não é a primeira vez que o assunto aparece no Cinematecando. Ano passado, foi publicado um texto sobre os diferentes olhares do público e como é isso que faz do Cinema algo tão especial. Mas é bom trazer o assunto à tona novamente e lembrar que discussões são válidas desde que ambos os lados estejam com a cabeça aberta. Não deve haver espaço para o desrespeito. Afinal, é você quem decide o que é um bom filme em nome de 7 bilhões de pessoas?

Jaquelini Cornachioni