Rebobinando: Levada da Breca (1938)

Rebobinando: Levada da Breca (1938)

Quarta-feira, dia de Rebobinando. Vocês já sabem, isso significa uma análise geral de algum filme essencial para a história do cinema. E hoje é dia de uma das melhores comédias do cinema clássico, que evidentemente acabou influenciando o humor da época. Contando com um elenco principal brilhante, uma direção exemplar e um roteiro chamativo, este se torna mais um filme obrigatório para todo fã do cinema hollywoodiano. A obra-prima da vez é…

“LEVADA DA BRECA” (1938)

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Dirigido por Howard Hawks e estrelado por Cary Grant e Katharine Hepburn: é preciso dizer algo mais para provar a qualidade dessa comédia adaptada? Não é à toa que este é o segundo filme com Hepburn que aparece por aqui no Rebobinando. A atriz, como em toda sua filmografia, consegue transmitir com esmero os traços de sua personagem caricata, que mesmo extrovertida e despojada, esconde sua inocência e sua fé no amor. Ainda por cima é muito bem acompanhada pelo personagem de Grant, que muitas vezes aparenta ser frio e insensível, mas que se prova o contrário ao longo do filme.

A história parte de David Huxley (Cary Grant), um paleontólogo com casamento marcado, que vai jogar golfe com o objetivo de agradar seu oponente e facilitar a doação de 1 milhão de dólares para o museu onde trabalha. Tudo muda quando conhece Susan Vance (Katharine Hepburn), uma rica herdeira que possui um filhote de leopardo de estimação, acostumada a ter tudo o que quer, mas completamente inconseqüente. Apaixonada, Susan decide se casar com David, mas para mantê-lo ao seu lado ela utiliza todos os recursos possíveis, transformando a vida do pacato homem em uma sucessão interminável de problemas.

A química entre o casal pode ser considerada uma das melhores já vistas, pois as personalidades contrastantes de seus personagens são as geradoras dos momentos mais cômicos do filme. O roteiro veloz de Dudley Nichols e Hagar Wilde traz para as telas além de acontecimentos inesperados, também diálogos rápidos e inteligentes, que atraem até mesmo os chatos espectadores do século XXI, se provando uma obra atemporal e importante.

Howard Hawks, um dos maiores diretores de todos os tempos, foi responsável por uma ótima condução de planos, que auxiliam na continuidade da narrativa, agindo como uma produção que agarra o espectador do sofá, puxa-o para dentro da tela, e de lá não o deixa sair até o filme terminar. De fato é para poucos saber conquistar o público através de elementos audiovisuais sutis, que duram menos de 2 horas, mas que ficam em nossas cabeças por muito tempo.

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Levada da Breca é sem dúvidas um dos melhores exemplos dos famosos “filmes que dão prazer de ver”; um humilde olhar de seus personagens, expressões faciais vistosas, uma trilha sonora emocionante e conexa, além de figurinos e cenários charmosos. A obra é reconhecida até hoje como uma das principais marcas das screwball comedies, ou “comédias malucas”, popular nos anos 30 e 40 por trazerem situações fora do convencional, personagens masculinos travestidos (até então censurados pela indústria), e especialmente uma combinação constante de palhaçada com ação rápida.

O filme sabiamente se apoia na comédia para ir além e trabalhar com elementos curiosos e intrigantes, que nos fazem torcer pelos personagens principais, a fim de conseguirmos o tão esperado final feliz, que se aparenta cada vez mais impossível, devido às circunstâncias problemáticas do rumo da história e das farpas trocadas por Susan e David. É também uma das primeiras produções da época que passou a colocar uma mulher em um papel de protagonismo, sendo responsável por escolhas que resultam nas cenas mais hilariantes.

Embora o filme tenha sido um fracasso de bilheteria, veio a ser imortalizado ao longo dos anos, mais precisamente nos anos 50, quando foi exibido na televisão, sendo reconhecido por sua genialidade e dinamismo, que estabeleceram muitos aspectos do gênero. Não podemos nos esquecer que Levada da Breca, apesar de não ser citado frequentemente nos dias atuais, é uma significativa obra que deve ser lembrada eternamente, influenciando comédias com casais de personalidade forte e situações embaraçosas.

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Desafio você, leitor, a assistir esse belo filme e não se fascinar pela história imprevisível, pelas ótimas interpretações, e pelas falas oportunistas e ágeis. De fato é um divertimento que vale a pena, e provavelmente te fará querer assistir a todas as “comédias malucas” já feitas. Uma obra que ora motiva, ora desmotiva, mas assim é a vida, não é mesmo? O filme se assemelha perfeitamente ao perfil de nossa existência, porém junto a isso, elabora um enredo que vai te envolver totalmente pela singularidade dos acontecimentos.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.