Sessão da meia-noite: La La Land e outros musicais

Sessão da meia-noite: La La Land e outros musicais

por Gabriel Campos

Ao assistir La La Land eu me apaixonei (de novo) pela Emma Stone, chorei muito, balancei os pés no ritmo das músicas e tive que ignorar o barulho dos ovários explodindo toda a vez que Ryan Casa Comigo Gosling aparecia na tela.

Assim que a projeção parou e as luzes se acenderam, consegui observar os casais trocando olhares apaixonados, amigos dançando imitando as coreografias do filme… enfim. A mágica aconteceu. Eu saí esperançoso e feliz do Cine Belas Artes com uma certeza: sonhos se realizam e, graças a Deus, o Musical não morreu.

Por isso que eu vibrei com as reações da imprensa e, acima de tudo, dos jovens com esse filme, afinal, sei que o gênero musical é ignorado por muitos que não suportam uma cantoria desnecessária e constante.

Já cansei de ouvir que “fulano não gosta de musical porque não é natural” ou “é muito falso essas pessoas cantando o tempo todo”… Ora, você acha que o Hugh Jackman tem garras saindo das mãos na vida real? Que o Johnny Depp tem mãos de tesoura?

FRANCAMENTE, VIU?!

Mas cá entre nós, a vida seria mais legal assim. Já imaginou você na fila do banco cercado por bailarinos com cartolas e sapatos lustrosos, jogando papel dourado pro ar enquanto seu número não é chamado no caixa?! Ou entrar no metrô lotado onde cada vagão cantaria num coro harmonizado perfeitamente com o vai e vem do trem?!

Acho que eu amo musicais justamente pelo fato deles serem uma lente de aumento (e bota aumento nisso) em aspectos da nossa realidade que poderiam ser dolorosos, tristes ou até mesmo mundanos.

Um bom exemplo disso são as cenas que listei a seguir:

Parece uma música meio mela cueca, né? Mas na trama do filme Grease, esse momento revela a angústia de uma adolescente que está, aparentemente, grávida. Colocar isso num contexto ainda maior sobre ser uma jovem solteira nos anos 50, ainda no colégio, com a comunidade inteira ao seu redor te olhando como uma pessoa imoral… Isso me faz pensar em quantas não passaram por isso na vida real. E toda a vez que eu escuto a interpretação brilhante de Stockyard Channing cantando “There are worst things I could do…” (Existem coisas piores que eu poderia fazer…), minha cabeça vai longe pensando nessas questões.

https://www.youtube.com/watch?v=Qy6wo2wpT2k

A história desse grupo de latinos querendo conquistar seu pedacinho de vida no idealizado sonho americano se mostra assustadoramente relevante. Essa música fala de preconceito, fala sobre ser explorado e sobre esse fogo inexplicável que faz as pessoas continuarem lutando. É muito louco pensar no verso que diz “Life is all right in América, if you are all white in America” (A vida é boa na América, se você for inteiramente branco na América) quando vivemos em uma era onde o presidente dos Estados Unidos recebeu um apoio imenso de organizações como a Klu Klux Klan. West Side Story estreou em 1957 na Broadway, teve uma versão de cinema em 1961 e cá estamos nós, ainda com os mesmos problemas em 2017.

https://www.youtube.com/watch?v=c3oSc8gMrGo

Essa canção ilustra um amor que nasceu unido no mesmo corpo, mas que por desobediência aos deuses foi separado com a punição de fazer as duas partes passarem a vida tentando se encontrar. À primeira vista, parece que se trata de achar o marido/esposa, a tão procurada alma gêmea. Mas conforme o filme desenrola é possível perceber que essa canção fala de um outro tipo de amor: o amor pela pele que você habita. É uma fala sobre identidade individual e de gênero. O filme Hedwig and the Angry Inch conta a vida de uma transexual alemã que sobreviveu a uma cirurgia precária de mudança de sexo. A estética agressiva e suja desse filme não tira o que há de mais belo nele: a busca interior por algo a mais. É algo extremamente difícil de se explicar em conceitos ou palavras, mas a música faz esse papel de modo leve e fluído.

https://www.youtube.com/watch?v=3yW66pScmEs

Até mesmo querer largar o noivo no altar pode ser algo extremamente divertido se for em um musical. Diga-se de passagem, essa performance da Carol Burnett cantando Stephen Soundheim.

Bom… Acho que já deu pra perceber que eu realmente curto musicais. Eu encorajo você a procurar mais a respeito. Quer algumas dicas? Procure por Chicago, Hair e, por Deus, qualquer coisa que o Fred Astaire já fez na vida. Se você quer rir, veja Os Produtores. Se quer se emocionar, Les Miserábles. LES MISERÁBLES. Se quer dançar, Mamma Mia ou Sister Act.

E, caso você seja um daqueles caras que cresceram em famílias tradicionais que dizem que musicais são coisas de rapazes que beijam rapazes, Neil Patrick Harris disse tudo na abertura da premiação TONY’s: IT’S NOT JUST FOR GAYS ANYMORE!

Redação

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