Crítica: American Vandal (1ª temporada)

Crítica: American Vandal (1ª temporada)

Vândalo Americano. Podemos dizer que finalmente temos uma tradução de título coerente? E olha que coerência é o que não falta nessa nova produção original da Netflix. De início, a abordagem temática da série pode não atrair todos os públicos, não só por ser baseado no formato de documentário como também por temperar tudo com muita sátira e humor. Mas por experiência própria, afirmo que apesar do tratamento diferenciado do gênero a série consegue ser divertida e bastante absorvente, principalmente por sua história principal, profundamente intrigante.

Falsos documentários satíricos são uma boa pedida para arrancar risos descontraídos do público, e quando isso se junta à um modelo de seriado e constrói um enredo atraente, temos então o chamado American Vandal. Se passando em um universo bem conhecido por todos nós – o ensino médio -, a série aposta na apresentação de vários personagens elaborados em cima dos clássicos estereótipos de escola. Não querendo se reinventar em cima disso, a proposta parece ser agradável e funciona muito bem para transmitir as intenções do roteiro.

Em uma bela tarde em uma escola de ensino médio dos Estados Unidos, alguém decide pichar 27 pintos em 27 carros estacionados no local. O ato abalou a escola e custou caro: o problemático estudante Dylan Maxwell (Jimmy Tatro) é expulso do colégio por seu suposto comportamento. Nisso, outros dois estudantes, Peter Maldonado (Tyler Alvarez) e Sam Ecklund (Griffin Gluck), acreditam que Dylan não é o culpado (assim como o mesmo alega ser inocente), e partem em busca de pistas e teorias para tentar descobrir a suposta verdade.

O foco da série definitivamente não são as interpretações dos atores, que por sua vez servem apenas para fazer a história acontecer. O ingrediente especial é o próprio desenvolvimento das pesquisas de Peter e Sam, que com suas conclusões e suposições, vão atrás de todos os alunos do colégio, buscando desvendar motivos, álibis, falsas impressões e tudo que possa ajudar a encontrar o culpado pelo crime.

O maior mérito da obra é a harmonia entre o bem conduzido suspense investigativo e os alívios cômicos muito bem compensados nos diálogos dos personagens e nas próprias situações que se encontram os mesmos. O expectador percebe logo de cara a aproximação cômica da série, mas não pára por ai. Nós vamos nos interessando cada vez mais pela maneira como a história é contada, através da narração de Peter, das ideias de Sam, e da importância narrativa de cada personagem. A série também consegue ser levemente crítica ao mostrar como a relação entre alunos e professores podem ser destruída por conta de achismos, preconceitos, falta de profissionalismo e desrespeito, deixando claro as mazelas existentes nos colégios de todo o mundo até os dias atuais.

Se esquivando de uma apuração técnica na arte e na fotografia, a série tem um grande enfoque na direção de Tony Yacenda, que co-escreve apenas um capítulo, mas dirige todos os episódios. A variedade de personalidades dos incontáveis personagens são valiosas para a construção do enredo e funcionam tão bem que em algumas cenas se torna até o melhor entretenimento cômico presente.

Notamos facilmente inserções de imagens e escrituras explicativas ao longo dos episódios, que esclarecem os acontecimentos sem exageros e ajudam no compreendimento e interesse do público. Outros dois aspectos importantes que auxiliam diretamente na absorção do expectador, são a montagem e o som. A impecável montagem de American Vandal possui seus momentos acelerados, mas tem a principal função de conectar cada entrevista e cada passo tomado por Peter e Sam, e em cortes perfeitos, ela consegue fazer isso criando um ritmo agradável e sem deixar a desejar. E a sincronização sonora se faz essencial, particularmente na transição do som com ruído nas entrevistas para o som limpo e claro da narração de Peter durante explicações visuais desenhadas.

É possível que American Vandal acabe sendo mais uma daquelas ótimas produções que possuam dificuldades para encontrar seu público-alvo. Portanto, sinto-me obrigado a alertar todos os espectadores possíveis: se você conhece os moldes de produção de um documentário investigativo, com certeza vai se entreter com a história e dar boas risadas com o humor subjetivo contido na série.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

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