Crítica: Baby (1ª Temporada)

Crítica: Baby (1ª Temporada)

A adolescência e seus obstáculos

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Todos nós em algum momento já tivemos saudades do nosso tempo de adolescente. Lembramos de como tínhamos menos responsabilidades do que agora, e daquela visão de mundo menos pessimista do que possuímos hoje. Mas, no fundo, quando realmente paramos para listar os pontos ruins da adolescência? A nova série italiana original da Netflix, Baby, se propõe a ilustrar o universo teen com base em diversos personagens, em seus bons e maus momentos. Só faltou definir um objetivo específico com maior clareza, para se diferenciar do que já estamos acostumados.

De cara conhecemos nossa protagonista, Chiara (Benedetta Porcaroli), que tem poucos amigos e deseja desesperadamente ser amada e aceita pelas pessoas a sua volta. Pouco tempo depois, tomamos conhecimento de personagens como Damiano (Riccardo Mandolini) e Ludovica (Alice Pagani). O primeiro é um problemático garoto incompreendido, enquanto a moça é alguém deslocada, que sofre com humilhações dos seus colegas de sala. O que os três possuem em comum? Todos vêm de um lar familiar conturbado, e buscam se encontrar diante de um mundo presunçoso e impiedoso, com a ajuda ou não de um amigo.

O problema é que os artifícios para que essa proposta funcione são todos elementos já vistos em muitas outras obras audiovisuais, de séries à filmes. Desde os estereótipos dos personagens, até as situações particulares de cada um. Ainda que abandonando nossas exigências em ver algo novo, Baby nos traz uma energia ruim por serem todas estratégias usadas em prol de uma incógnita. Não chegamos a lugar nenhum.

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Os atores dão seu máximo, mas pouco conseguem extrair de personagens tão previsíveis e ao mesmo tempo tão imprevisíveis. Previsíveis por sua construção, seu estilo de vida. E imprevisíveis dentro de cenas específicas, por exemplo quando nos deparamos com um momento alegre entre dois personagens, de repente ambos começam a discutir sem motivos suficientes. Por vezes nos pegamos questionando as intenções do roteiro, o que por fim só nos deixa mais angustiados. Seria o objetivo da série expôr os males da influência de nossos pais em nossas vidas? Ou é apenas um reflexo de como nossas próprias inseguranças em relacionamentos amorosos afetam nossa relação com todos a nossa volta? São muitas questões pinceladas, e pouco incrementadas.

O diretor Andrea De Sica (neto do genial e memorável Vittorio de Sica), consegue criar cenas boas, que se destacam quando vistas de fora, de maneira segmentada. Mas o roteiro (feito por numerosas pessoas) falha ao unir essas histórias e desenvolver os personagens em busca de uma conclusão ou ponto de vista que se destaque. Não há nada de novo em Baby, a não ser o universo adolescente de uma cidade da Itália.

Salva-se alguma estilização da montagem, que traz modernidade com  as mensagens de celular sobrepostas na tela, e da fotografia com iluminações em diferentes cores e movimentos de câmera interessantes. Baby consegue emocionar em determinadas cenas, mas cai no convencional sem a preocupação de trazer algo diferente.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.