Crítica: O Perfume (1ª Temporada)

Crítica: O Perfume (1ª Temporada)

O cheiro do mistério

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O quanto você, leitor, se lembra de ter se sentido tão fisgado pela arte de se criar um perfume? Eu mesmo não faço ideia. Talvez nunca tenhamos dado atenção suficiente a esse trabalho minucioso e delicado. Mas já parou para pensar como um simples odor corporal pode ter influência nas pessoas ao nosso redor? A série alemã, O Perfume, busca trazer tudo isso apenas como um brinde para aqueles que se propuserem a embarcar em uma investigação de assassinatos que impressionam pela maneira como são realizados.

Chegando de mansinho no catálogo da Netflix, a segunda série alemã original da produtora/distribuidora não parece ter chamado tanta a atenção do público quanto Bird Box, que estreou no mesmo dia (21 de dezembro), até porque não houve um grande investimento na divulgação do seriado. Mas, na verdade, O Perfume merece a atenção dos espectadores apaixonados por um bom suspense investigativo, que se constrói aos poucos, em um ritmo lento, carregado de metáforas, descobertas e reviravoltas.

Após o surgimento do corpo de uma conhecida cantora local, Katharina Läufer, sem cabelos e com as axilas e seu órgão genital cortados, a detetive Nadja Simon (Friederike Becht) e seu parceiro Matthias Köhler (Jürgen Maurer) são encarregados de investigar o caso. É quando descobrem uma relação próxima da cantora com outros cinco amigos da época de colégio, que hoje vivem suas vidas como podem, enquanto escondem diversos segredos e traumas e que, após a morte de Katharina, resolvem se encontrar e voltam a ter mais proximidade.

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Aos poucos a história vai nos apresentando o cotidiano e os conflitos internos e externos de cada um desses amigos, juntamente com a própria vida profissional e profissional da detetive, que é quem mais se aproxima de uma protagonista na série. Os arcos são bem construídos e alimentam o mistério dos assassinatos de forma convincente, o que nos faz suspeitar de todos os personagens, principalmente após a revelação do passado dos amigos e sua relação com o ato de criar perfumes especiais.

Com atuações sublimes e uma trama poética, ao mesmo tempo que sombria, o público vai se envolvendo devagar com o enredo, que se alimenta com uma estética visual belíssima, se apoiando em uma montagem lenta que contrasta com a fotografia de movimentos dinâmicos de câmera e cenários bem iluminados com as mais diversas cores nos lugares mais pontuais. Um bom exemplo disso é a paleta de cores quente, em uma iluminação amarelada para trazer a inocência dos cinco amigos nos flashbacks, e do outro lado uma iluminação mais esverdeada e figurinos escuros representando o remorso e a infelicidade do presente.

Por fim, temos uma narrativa inteligente e não mastigada, com personagens bem desenvolvidos. A graça está em fazer o espectador juntar as peças e criar seu próprio quebra-cabeças, mas a série carece de uma maior amarração dos arcos e da resolução de cada personagem, visto a grande influência que cada um possui na história como um todo. Dependendo do envolvimento do espectador, O Perfume pode cansar durante a metade de seus episódios, por seu ritmo arrastado, mas acredito que tenha sido a melhor escolha para contar uma história com tantas sutilezas e profundidade. Como é o caso do seriado também alemão, DARK. Que os alemães continuem trazendo tramas cativantes, sombrias e poéticas como essas, em sua linguagem única e ousada.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.