Crítica: Ozark (1ª Temporada)

Crítica: Ozark (1ª Temporada)

É em filme atrás de filme e em série atrás de série que a Netflix vem acertando cada vez mais. Ao contrário do que pensam Sofia Coppola e Christopher Nolan, essa ferramenta representa o futuro do entretenimento, pois tem distribuído produções de alto nível, com elencos de peso e boas histórias a ser contadas. Ozark, o mais novo experimento da empresa com séries, traz consigo um excelente enredo que precisa ser conferido por todos apreciadores do suspense e do cinema de ação. A série renova o gênero extrapolando-o para uma construção minuciosa de atmosfera, onde a fotografia, roteiro, direção e trilha sonora trabalham juntos para criar o clima ideal de mistério – que é percebido de longe desde o início.

Em um dos melhores pilotos que já vi nos últimos tempos, a série nos apresenta seu protagonista, o anti-herói Marty Byrde (Jason Bateman), infeliz consultor financeiro de Chicago que, após ser acusado de desviar 8 milhões de dólares de um cartel mexicano e ter sua família ameaçada de morte, se vê na obrigação de se mudar para os arredores do lago de Ozark (daí o nome da série), um local afastado onde pode realizar lavagem de dinheiro sem a preocupação de ser pego tão facilmente. Com esse princípio em mente, ele passa a viver em prol da dívida que possui com seu chefe, Del (Esai Morales), que a qualquer momento pode desistir de Marty e tirar sua vida.

Esse contexto se apresenta como a história principal, que claramente é a busca do protagonista em sustentar e proteger sua família que é composta por sua esposa Wendy (Laura Linney), sua filha de 15 anos, Charlotte (Sofia Hublitz), e seu filho de 13 anos chamado Jonah (Skylar Gaertner). O arco familiar dá abertura para o desenvolvimento de outras narrativas secundárias, o que caracteriza Ozark como uma série, e não um filme. Outras famílias e personagens assumem sua importância na produção a partir do segundo episódio, em que seus conflitos se correlacionam com Marty e sua família. que tentam a qualquer custo aprender a lidar com o FBI, uma família de ladrões, traficantes, um ingênuo agente imobiliário, um pastor aflito e muita confusão. Prato cheio pra uma temporada não é?

Um dos grandes trunfos da série é a caracterização dos personagens. Além dos principais (o valente Marty e a explosiva Wendy), o roteiro dedica um pequeno tempo para contar um pouco mais sobre outros personagens (principalmente no oitavo episódio). Jonah é um jovem estranho e curioso. Charlotte uma garota que só quer ser normal e se divertir. As atuações são todas boas, mas quem se destaca nesse meio é o casal Jason Bateman e Laura Linney, que cumprem com seus papéis com esmero e não deixam a desejar. Estão definitivamente no papel de suas vidas. Ambos são atores incríveis e deveriam ser mais reconhecidos.

A qualidade do roteiro é enorme. Não são apenas personagens bem executados que fazem a alegria do povo. Nos agradamos com circunstâncias surpreendentes, cenas angustiantes, um leve humor que estimula o público e diálogos engenhosos que sabem ser explicativos quando necessário (como nas questões de finanças e de lavagem de dinheiro) e que também conseguem ser sutis e dizer muito com simples ações e olhares na hora certa. Assim como roteiro, a direção também é colaborativa (como de costume em seriados), mas o trabalho todo é exercido com tanta propriedade que parece ser uma cabeça só por trás de tudo.

Há vezes em que a fotografia, a paleta de cores e a colorização desempenham uma função fundamental na definição “fantasiosa” de uma obra, caracterizando-a de uma forma específica. Ozark é um bom exemplo disso. Na série, a fotografia, que expõe movimentos de câmera simples mas autênticos, se apoia em uma paleta de cores frias que acompanha todos os episódios da série. Essa paleta se evidencia com a presença de uma colorização azulada da montagem, o que causa no expectador o exato sentimento pretendido: desconfiança.

Assim como o roteiro, outro aspecto brilhante da série é a trilha sonora, que mescla country, rock e folk em uma clara referência à uma cidade afastada e caipira que tem muito a oferecer (e a complicar a vida de Marty). Mas o maior mérito da trilha, é que ela não se atém aos 3 gêneros, e às vezes inclui uma faixa diferente aqui ou ali para arrancar uma emoção essencial do público. Isso funciona perfeitamente, principalmente no extasiante final do último episódio.

Divertimento inteligente. Talvez seja o melhor modo de definir Ozark em 2 palavras. A série consegue impressionantemente conciliar diversão junto com assuntos burocráticos que afastariam qualquer espectador, mas no caso não afasta. Marty Byrde é o protagonista que qualquer fã de séries estava esperando, e com a cintilante interpretação de Bateman (que também dirige os dois primeiros e os dois últimos episódios) tudo fica mais sedutor. A produção criada por Bill Dubuque e Mark Williams veio pra consagrar a Netflix de vez e não deixar nenhuma dúvida de que séries originais e cativantes são o melhor investimento do século XXI.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

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