Crítica: Sick Note (1ª e 2ª Temporadas)

Crítica: Sick Note (1ª e 2ª Temporadas)

O humor britânico e suas sutilezas

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Sabe aquele dia nublado que você sai para caminhar esperando apenas fazer uns exercícios e ouvir algumas músicas no seu fone de ouvido, mas no meio caminho encontra uma nota de 50 reais no chão? Tudo bem. Admito que isso praticamente nunca acontece conosco, mas a sensação de assistir às duas temporadas de Sick Note (ou, na deprimente tradução para o português, Dá Licença, Saúde) sem compromissos durante um final de semana é quase isso.

A série britânica, transmitida pela Sky One durante 2017 e 2018, chegou ao Netflix já com suas duas curtíssimas temporadas (14 episódios de 25 minutos em média), e promete entregar aos fãs, além de um humor diferenciado, muitas doses de ação e cenas tensas capaz de fazer qualquer um ficar na ponta da cadeira e gritar de nervoso. Sim, a série excede nossas expectativas, já que a partir da sinopse faz o público esperar apenas dar algumas risadas. Mas a gente não faz ideia de quantas situações desconfortáveis e angustiantes nos esperam durante os episódios.

A história principal acompanha Daniel Glass (Rupert Grint), um mentiroso compulsivo que acaba de ser diagnosticado pelo Dr. Iain Glennis (Nick Frost), com câncer de esôfago em um exame de rotina. Pouco tempo depois, após contar a todos seus conhecidos e amigos, incluindo sua namorada, descobre que o diagnóstico foi falso, e na verdade ele não tem nenhuma doença. Porém após ter noção de todas as vantagens e do tratamento diferenciado que recebe, Daniel decide manter a mentira, o que gera uma onda de imprevistos, enrascadas e até tragédias da pior maneira.

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A direção e o roteiro da série criam situações e personagens extremamente bem desenvolvidos, que nos faz entrar em contato de uma forma imediata e deliciosa com o ambiente de trabalho de Daniel, sua vida pessoal, e com as loucuras que comete para manter sua mentira, a qual continua também para proteger o emprego de seu médico. Aliás, é Dr. Glennis quem protagoniza as cenas mais jocosas e cômicas da série, num papel devorado pela ótima interpretação do talentoso Frost (famoso pela parceria com Simon Pegg em filmes como Chumbo Grosso e Todo Mundo Quase Morto).

Além disso, todos os outros personagens parecem complementar um tipo de humor único e característico. Desde sua colega de trabalho brincalhona e inventiva, até seu chefe insensível e boca suja e seu irônico e confidente amigo virtual com o qual joga algumas partidas de um game no PlayStation. Com o início da segunda temporada, notamos uma mudança de foco específico em cima de Daniel, e passamos a perceber uma dedicação na construção de arcos dos personagens secundários, ainda que pouco aprofundados. Além disso, tomamos nota de personagens novos, com personalidades próprias que nos fazem rir de uma maneira ou de outra.

Conferir Sick Note deveria ser uma obrigação a todos os fãs do humor britânico, e também aos que não conhecem esse tipo de comédia, e quer se aventurar em uma abordagem diferente do que estamos acostumados. Assim como Lovesick, é um copo cheio de cenas cômicas e desconfortáveis que acompanham um protagonista supostamente doente, mas que aqui, se banha da tensão que envolve o espectador durante todos os episódios.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.