Desventuras em Série: a Netflix acertou mais uma vez?

Desventuras em Série: a Netflix acertou mais uma vez?

Se você foi um jovem leitor no início dos anos 2000, provavelmente já ouviu falar de Desventuras em Série, que conta a jornada dos irmãos Baudelaire para fugir das garras do Conde Olaf, um vilão muito cruel que tem apenas um objetivo na vida: roubar a herança dos órfãos Violet, Klaus e Sunny. Desventuras em Série conta com 13 volumes escritos por Lemony Snicket (pseudônimo de Daniel Handler) e ilustrados por Brett Helquist. O sucesso dos livros foi tanto que, em 2004, um filme protagonizado por Jim Carrey no papel de Olaf foi lançado. O longa aborda as histórias contadas nos três primeiros volumes da série: Mau Começo, A Sala dos Répteis e O Lago das Sanguessugas. Infelizmente o filme não agradou tanto assim e, por isso, não teve continuação (o que é uma pena, pois eu adoro esse longa e ele tem 72% de aprovação no Rotten Tomatoes). Mas a Netflix resolveu pegar para si a responsabilidade de tentar, mais uma vez, tirar Desventuras em Série do papel. E, dessa vez, nada de filme: os 13 livros de Lemony Snicket se tornaram uma série. Confira o que achamos!

É NECESSÁRIO SE DEIXAR LEVAR PELO SURREALISMO

Em uma era de séries e filmes repletos de efeitos especiais que beiram a perfeição, Desventuras em Série vai à contramão de tudo isso. Propositalmente, claro. A trama é ambientada em uma realidade fantástica sem lugar ou época definida. Em um dia nublado, Violet, Klaus e Sunny são avisados pelo banqueiro Sr.Poe que os seus pais morreram em um incêndio. Desamparados, eles são levados para a casa de seu novo tutor, Conde Olaf, que sabendo da herança das crianças trama diversos planos para colocar as mãos no dinheiro antes de Violet completar 18 anos. A premissa pode até ser simples, mas é só continuar assistindo para notar que ela foge de diversos clichês. Conforme os episódios vão passando, nos deparamos com planos cada vez mais mirabolantes criados por Conde Olaf. E mais surreal ainda é a maneira com que as crianças conseguem, até então, se safar de todo esse azar que os persegue. É importante dizer que, para a felicidade de todos os fãs dos livros, a adaptação é muito bem feita e fiel.

A escolha das crianças foi um acerto e tanto na série! Malina Weissman fez um ótimo trabalho no papel de Violet, assim como Louis Hynes e seu inteligente personagem, Klaus. Até mesmo a bebê Sunny, interpretada por Presley Smith, encanta com as suas caretas e tiradas engraçadas, servindo de alívio cômico, por mais que ela não tenha compreensão alguma do que esteja acontecendo. Mas é Neil Patrick Harris que rouba a cena com a sua ótima atuação no papel de Conde Olaf. O ator, muito conhecido por How I Met Your Mother, soube dar ao vilão o tom que ele precisa para nos convencer: ele é terrível, maquiavélico, irônico, sarcástico, atrapalhado e cheio de humor negro. Talvez a já experiência com comédia tenha facilitado as coisas para Neil. Aliás, é o próprio ator que canta a música de abertura, que tem a sua letra alterada de acordo com os episódios. Por isso, não pule a abertura, por mais que ela implore para que você faça isso.

Outra grande surpresa de Desventuras em Série é a juíza Strauss (Joan Cusack). No filme de 2004 ela foi apresentada, mas não desenvolvida. Na série, sabemos um pouco mais sobre a personagem e é fácil se apegar a ela. Além disso, temos Patrick Warburton no papel de Lemony Snicket. O narrador é onipresente e chega até mesmo a interromper a série em alguns momentos para falar sobre o infortúnio dos protagonistas, sempre com bastante pessimismo. É o narrador que nos mantém no chão diante de todo o surrealismo. Lemony não subestima quem assiste e não poupa nem mesmo os mais jovens. Ao contrário disso, ele fala sobre temas complicados sem nenhuma discrição, como a morte e a dor da perda de um ente querido (se isso já é difícil para um adulto, imagine para uma criança). Cabe também ao narrador a responsabilidade de nos fazer desistir de acompanhar Desventuras em Série (como vimos em um dos teasers que a Netflix lançou), já que ele não cansa de nos explicar o quanto essa história é triste. Claro que, com tantos avisos, nós ficamos ainda mais instigados para saber o que vem a seguir. A série em certo momento pode até cansar um pouco e se tornar lenta, mas, de qualquer forma, ela não perde a sua essência e logo o ritmo volta a ficar acelerado.

Desventuras em Série é um pouco diferente de outras produções que você já viu. Não por trazer algo muito inovador, mas por mostrar um ponto de vista diferente do que estamos acostumados onde as crianças são mais maduras e inteligentes do que os adultos responsáveis por elas, que chegam a ser “ridicularizados” de maneira irônica e bem humorada. Do começo ao fim, o diretor Mark Hudis prova que sabe o que está fazendo e, melhor ainda, sabe exatamente como contar cada obra. Nesta adaptação, cada livro é dividido em dois episódios, uma escolha inteligente do diretor. Como a série possui 8 episódios, iniciamos com Mau Começo e terminamos em Serraria Baixo-Astral.

Com uma produção bem feita, assim como o roteiro e a direção, a Netflix acertou mais uma vez com Desventuras em Série. Nós sabemos que adaptar livros, principalmente os clássicos, não é tarefa fácil e quando o resultado é satisfatório somos obrigados a reconhecer e tirar o chapéu. Agora nos resta esperar que a série seja renovada para uma segunda temporada e, posteriormente, terceira também. Como diz Haruki Murakimi: “Quando saíres da tempestade, já não serás a mesma pessoa que entrou”. Depois de tantas desventuras, no que os irmãos Baudelaire irão se tornar?

Não ligue para os avisos e não desista de acompanhar a história triste de Violet, Klaus e Sunny. E se você decidir que não vai nem ao menos tentar se aventurar nessa série… bem, azar o seu. Nós te avisamos!

 

 

 

Jaquelini Cornachioni

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