Crítica: Frontier (1ª temporada)
Por Rodrigo Fabretti
Com o foco e todos os esforços da Netflix em divulgar Desventuras em Série, Frontier foi disponibilizada discretamente no catálogo do streaming no último dia 20 de janeiro. A série foi produzida em parceria com a Discovery Channel Canadá, e isso fez com que a série fosse transmitida em novembro no canal canadense e depois disponibilizada para a Netflix.
Criada por Peter Blackie e Rob Blackie, Frontier se passa no início de 1700 e tem como base histórica a rota comercial de peles na América do Norte, em especial ao norte do Canadá. Esse material era extremamente valioso. Com isso, criou-se uma competição para quem detinha o monopólio do comércio de peles na região. Historicamente, a competição era tão acirrada que envolvia britânicos, franceses e holandeses. Mas na série vemos apenas os britânicos, sendo os outros países apenas mencionados algumas vezes.
Frontier tem como foco a disputa pessoal de Declan Harp (Jason Momoa) e do britânico Lord Benton (Alun Armstrong). Harp é um meio-irlandês e meio-nativo que trabalhava para Benton na Hudson’s Bay Company – abreviada como HBC. Após Benton matar sua mulher e seu filho, o personagem de Momoa transforma a disputa territorial como uma forma de chamar a atenção do britânico e se vingar do que ocorreu com sua família. Ao mesmo tempo, temos a trama do jovem Michael Smyth (Landon Liboiron) que, após uma tentativa frustada de furtar um barril de pólvora de uma embarcação da HBC, adormece no mesmo barco que tentou roubar e acaba indo para o Novo Mundo enquanto sua amada, Clenna Dolan (Lyla Porter-Follows), foi presa e permaneceu em Londres. Para salvar Clenna, Smyth aceita ajudar Lord Benton a achar Declan Harp.
Prepare-se para ter um nó no cérebro porque, além desses arcos, temos a disputa do território entre o grupo de Harp, HBC, os irmãos Brown e Samuel Grant, investidor canadense que quer tomar o controle da região e realizar o comércio com nativos. Como se não bastasse, também temos o Capitão Chesterfield (Evan Jonigkeit), braço direito de Benton, tentando tomar o posto de governador de Fort James – local que passa a maior parte da trama. Talvez a melhor surpresa e arco de Frontier seja a de Grace Emberly (Zoe Boyle), que administra uma cervejaria e, junto com suas ajudantes, consegue saber tudo que acontece na cidade simplesmente “comprando” as informações com bebida. Em volta dela e de sua cervejaria é onde acontece a maior parte dos acontecimentos da série. Junto com a obsessão de Harp e Benton um com o outro, Emberly é um dos principais motores, fazendo todo os resto da série aconteça. Ela também ganha destaque ao encara de frente todos os homens da série em uma época que as mulheres ainda tinham que se submeter aos desejos deles. O alívio cômico fica por conta do Padre James Coffin, um clérigo alcoólatra.
Confuso? Pois é! Esse é um dos pontos que Frontier mais falha. São muitos arcos e muitos personagens para desenvolver em apenas seis episódios. Em decorrência disso, poucos realmente são desenvolvidos e têm suas histórias contadas. Como se não bastasse, a série da Netflix com o Discovery Channel ainda teima em colocar mais personagens no decorrer da trama.
O início é bem contado e tem um ritmo bom. Mas principalmente após o terceiro episódio, a série desanda e vai ladeira abaixo com sua pior falha: a conclusão – ou a falta dela. É comum os produtores deixarem pontas soltas para próximas temporadas, mas deixar o principal arco aberto e sem conclusão é horrível. Já deixar todos as histórias abertas, é pior ainda! Ao final da primeira temporada, com vários clichês, como Benton dizendo ao Harp que seu filho deu trabalho de matar e que sua mulher estava grávida de uma menina enquanto o torturava, você espera que ela se encerre como começou: Declan Harp arrancando as tripas de todos os seus inimigos. Mas não é isso o que acontece, o que pode decepcionar quem espera um final glorioso e sangrento.
Quando está em cena, Jason Momoa rouba a atenção por conta de sua boa atuação. Nos momentos em que ele está extremamente com sangue nos olhos, não é difícil lembrar de Khal Drogo em Game of Thrones, apesar da única semelhança entre as duas séries seja o tanto de personagens que existem em seus universos.
A ambientação é excelente, com roupas que remetem a época – quem jogou Assassin’s Creed IV: Black Flag vai sentir uma certa nostalgia -, os efeitos especiais erram e muito. Existem cenas que mostram que aquilo que está acontecendo é feito no computador e no CGI. Logo no início, por exemplo, a cena em que Smyth está no barco é possível notar que eles estão em um fundo verde. Outro erro grotesco é ao mostrar a fachada da casa de Samuel Grant, em Montreal. A cena mostra pessoas passando na frente dela, mas apenas os chapéus, dando a impressão que eles filmaram as cabeças das pessoas andando por um chroma key e adicionaram a residência posteriormente.
Frontier tem tudo (já que foi renovada para uma segunda temporada) para ser uma excelente série. A primeira temporada tem suas qualidades no início, mas depois perde o rumo totalmente. Não chega a ser ruim, mas não chega a ser obrigatória. Se era para criar uma rivalidade com Vikings como série histórica, Frontier nem chegou perto.
FICHA TÉCNICA
Direção: Brad Peyton, John Vatcher, Kelly Makin e Ken Girotti.
Criação: Peter Blackie e Rob Blackie
Elenco: Jason Momoa, Landon Liboiron, Zoe Boyle, Christian McKay, Evan Jonigkeit e Alun Armstrong.
Gênero: Drama / Aventura
Número de Episódios: 6