Crítica: Ilegal – A Vida Não Espera
Este é o tipo de documentário em que você agradecerá pela vida que tem enquanto os créditos finais sobem a tela. E talvez possa quebrar diversos paradigmas e preconceitos impostos erroneamente pela sociedade. ILEGAL – A Vida Não Espera é uma produção da Revista Superinteressante em parceria com o diretor Tarso Araújo, e mostra, principalmente, a trajetória de pais que precisam importar maconha medicinal para o tratamento de seus filhos no Brasil.
Katiele Fischer é mãe de Anny, uma garotinha de cinco anos que possui uma uma doença rara e sem cura, chamada síndrome CDKL5. Anny sofre com convulsões constantes, e a única substância capaz de produzir efeitos é o CBD, derivado da Cannabis sativa, que é proibida no Brasil. Acompanhamos a saga da família Fischer, na tentativa de driblar burocracias e liberar uma autorização junto à Anvisa para a importação do medicamento.
Em uma das cenas mais chocantes e assustadoras, Katiele conversa com as autoridades da Anvisa pelo telefone, e precisa interromper a ligação no momento em que Anny sofre uma de suas constantes convulsões.
Outra paciente apresentada é Juliana Paolineli. Ela sofreu uma implosão da coluna lombar, e precisa fumar e vaporizar maconha para sentir alívio nas dores. “Utilizei muita medicação pesada até chegar na morfina e outras substâncias. Nada funcionava”, diz Juliana. “Li sobre os resultados da maconha para o alívio da dor, e comecei a utilizar”. Apesar de não sofrer mais com as consequências da implosão lombar, a paciente precisa lidar com o preconceito e a cara feia dos vizinhos que não compreendem as condições de seu tratamento.
Um ponto muito interessante sobre ILEGAL – A Vida Não Espera é a batalha política pela retirada do CBD da lista de medicamentos proscritos no Brasil. Katiele e outras mães de crianças com a mesma síndrome assumem a causa para que o cannabidiol seja liberado, e vão até a Câmara dos Deputados em Brasília para conversar com as autoridades.
ILEGAL – A Vida Não Espera está disponível no Youtube, e faz o telespectador repensar o que é certo e errado. É simplesmente impossível não comprar a briga dos personagens. Tarso Araújo, que conduz a direção com esmero, deixa claro que a obra mostra exclusivamente o lado medicinal da maconha, e chama atenção para a urgência de regulamentar seu uso para tratar diferentes problemas de saúde.