Crítica: Big Mouth (1ª temporada)
Com tantas produções de animação/desenho animado voltadas para o público adulto no cinema e na televisão, há quem duvide e ache que são apenas filmes e séries para crianças. Felizmente, a série Big Mouth vem para acabar de vez com esse conceito – e para deixar os pais mais conservadores de cabelo em pé.
Provavelmente você irá concordar comigo, afinal, que criança pode compreender e rir de piadas sobre a puberdade se ainda não vivenciou aquilo? A série acompanha Nick (Nick Kroll) e Andrew (John Mulaney), dois melhores amigos que estão prestes a conhecer as vantagens e desvantagens da adolescência. Juntos, eles enfrentam a difícil fase da puberdade e ainda encontram muita diversão pelo caminho enquanto enfrentam os desafios que todo adolescente precisa lidar.
A primeira temporada, com curtíssimos 10 episódios, consegue difundir seu humor sem dificuldades que, embora seja bem engraçado em certos momentos, chega a ser repetitivo e previsível em outros. Os personagens são bem percorridos através das inúmeras inseguranças que qualquer adolescente possui: o início da puberdade, o conhecimento do corpo, as fantasias sexuais e o interesse pelo proibido. E quem dá vida a todas essas questões são os “monstros dos hormônios”, que aparecem apenas para os adolescentes e estimulam seus desejos sexuais, além de trazer muitos alívios cômicos para a série.
Talvez um dos únicos problemas do roteiro seja a demanda de um protagonista, ou talvez, quase um. Isso faz com que a escolha seja possivelmente o garoto Andrew, que possui mais tempo em cena junto de seu amigo Nick, seus pais e sua paixão escolar, Missy. E se por algum motivo não é Andrew quem representa o definitivo personagem principal, é outro garoto quem faz essa função: o próprio Nick. Mas qual seria o problema disso? É o fato de que as piadas e o enfoque temático estejam muito mais direcionados aos garotos do que às garotas. Ainda há um episódio ou outro que aborde um pouco as perplexidades femininas, porém de maneira bem superficial, trabalhadas apenas em cima de Missy e Jessi.
O design de animação é bem agradável, não abusando de cores muito chamativas e sem apostar em grandes e inovadoras estilizações. O que é interessante é a opção de foco da direção, que em algumas cenas deixa a animação embaçada ao fundo, focando no que está mais próximo, o que estabelece uma noção de profundidade de campo. Ora essa, e o que seria de Big Mouth sem sua impecável sonorização? A mixagem de som é minuciosa e sabe bem qual aspecto sonoro deve estar mais presente, com mais volume, deixando outros sons em segundo plano. Isso parece comum, mas não é. Vemos muitas séries de desenho animado e filmes de animação em que tudo parece uma grande bola de neve sonora.
A série foi feita para maratonar. É difícil ver um episódio e não querer ver o outro logo em seguida. Não por conter um sedutor gancho de enredo para o próximo episódio, mas simplesmente por nos agarrar por meio de um entretenimento divertido e cômico, trazendo boas lembranças para qualquer jovem ou adulto, pois todos já passamos por essa complicada fase da vida, que não é tão trabalhada em animações. De início, o conteúdo não censurado de imagens e linguajar pode impressionar alguns expectadores, mas logo nos acostumamos com o humor e nos deixamos levar pelas aventuras dos personagens.
Não dá para esquecer da forte (porém secundária) crítica social contida nos episódios da série. Temas principais como o papel da mulher e suas adversidades são muito bem retratados em Big Mouth, assim como o próprio tratamento dos homens em relação as mulheres. A Netflix acertou em cheio ao trazer mais uma série original que precisava mais do que nunca aparecer, seja para arrancar risos do público, seja para questionar os infelizes padrões sociais presentes no nosso cotidiano.
https://www.youtube.com/watch?v=hKFxFxiDANg
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