Crítica: Resident Evil 7 – Biohazard

Crítica: Resident Evil 7 – Biohazard

Já vou dizer logo de uma vez: com Resident Evil 7 – Biohazard, a Capcom deu a volta por cima. Após anos de games medíocres e ruins da franquia, como Operation Racoon City, Umbrella Corps e até mesmo Resident Evil 6, a desenvolvedora trouxe de volta a fórmula tradicional da série em sua melhor forma até hoje.

O game conta a história de Ethan Winters, que após receber uma misteriosa vídeo-mensagem de sua noiva, Mia, segue para os pântanos da Louisiana para procurá-la. Em sua chegada, depara com uma estranha família, os Bakers, que o aprisionam em sua labiríntica casa. Há claramente algo de muito errado, então no controle de Ethan o jogador inicia uma fuga para encontrar a amada do protagonista e sobreviver às inúmeras ameaças do local.

Partindo de uma premissa simples, Biohazard logo introduz diversas mecânicas presentes nos jogos clássicos da franquia, já conquistando o jogador pelo equilíbrio entre a familiaridade e a novidade. Os recursos são escassos, os cenários misteriosos, mas há uma força irresistivelmente sedutora na estrutura do game, imediatamente viciante.

Um aspecto trabalhado de forma exemplar são as situações de fuga na qual Ethan deve escapar de cada um dos Bakers, que são praticamente invencíveis nas primeiras horas de jogo. Lembra-se bastante do eletrizante filme O Homem nas Trevas, com a espacialidade bem trabalhada da casa, num misto de clareza e complexidade, e a especificidade de cada item exigido para a progressão da história. Menos aqui é mais, fazendo um contraponto necessário à extravagança de Resident Evil 6, que se perdeu em um excesso de ação e mecânicas mal-implementadas, sacrificando a essência do terror.

E por falar em terror, Resident Evil 7 é, de longe, o exemplar mais assustador de toda a franquia. Com uma perspectiva em primeira pessoa totalmente justificada, o game deixa os jogadores apreensivos desde seus primeiros minutos, que são surpreendentes e trazem uma série de surpresas visuais e narrativas. Há uma clara inspiração no formato do terror found-footage, principalmente a trilogia V/H/S, favorecendo uma maior crueza e veracidade à ação, induzindo surtos de adrenalina por vezes insuportáveis, abalando o jogador pela base e criando um nível de intimidação há muito não víamos em games de terror no geral.

As comparações com Alien: Isolation são inevitáveis, afinal são games que partilham de uma estrutura similar. Biohazard, porém, acerta ao manter sua duração mais concisa, impedindo que cada cenário de sua campanha se torne facilmente repetitivo e mantendo os conflitos com os Baker mais surpreendentes do que irritantes. Contudo, tanto Biohazard quanto Isolation sofrem de um problema em comum: a falta de variedade nos inimigos. Enquanto no game sci-fi tínhamos alguns humanos e androides para complementar a ameaça do xenomorfo, aqui temos os chamados Mofados, evoluções do vírus que deram errado e transformaram seus hospedeiros em criaturas retorcidas e gosmentas. Nos primeiros encontros, tais oponentes intimidam, mas a falta de variedade em seus visuais acaba minando a sensação de ameaça.

O combate, no geral, é bastante redondo, dando aos jogadores a opção de chavear itens principais de acordo com os botões direcionais do gamepad. A combinação de itens é também infinitamente mais prática, com um menu próprio que pode ser acessado de forma rápida. O sistema de upgrades, algo inédito na franquia principal, aqui toma a forma de raras moedas antigas que podem ser usadas para acessar esteroides (aumento de vida máxima), estabilizadores (velocidade de recarga) e armas novas. No espectro negativo, sente-se a falta de um sistema de esquiva, com as possibilidades de defesa limitadas a um bloqueio tão inútil que esqueci de usá-lo pela integridade da história (na verdade, o uso dele é exigido na luta final, mas apenas isso).

Apesar das inegáveis falhas, Resident Evil 7 é um grande presente aos fãs da série, justamente na mesma semana na qual sua contraparte cinematográfica ganha uma conclusão (cuja crítica você confere aqui). Com as reclamações a respeito da câmera caindo por terra, a Capcom resgatou a essência de sua série mais famosa e a injetou com uma carga imensa de terror e adrenalina, reconhecendo os novos tempos do terror no cinema e aplicando a inspiração de forma memorável. Se você diz nunca ter sentido medo com algum game da franquia, só espere até botar as mãos nesse aqui.

Jogado no Playstation 4, onde também há suporte para a tecnologia VR. O game também está disponível para os consoles Xbox One. 

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

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