Crítica: A Espera

Crítica: A Espera

Logo em seus minutos iniciais, A Espera, estreia de Piero Messina na direção de longas-metragens, torna-se perceptível o fato de que a obra será um deleite visual. Messina, que foi assistente de direção de Paolo Sorrentino em sua obra ganhadora do Oscar A Grande Beleza, prova que, apesar de certas limitações narrativas, é imensamente capaz de envolver o público com seu estilo singular.

Em sua primeira cena, após um mergulho vertiginoso da câmera sobre uma estátua de Cristo, somos apresentados a Anna (Juliette Binoche), mulher solitária que acaba de sofrer uma perda familiar. Em casa, recebe um telefonema de Jeanne (Lou de Laâge), namorada de seu filho, que chega à região da Sicília, Itália para visitá-lo. Em uma sequência imagética marcante, iniciam-se os letreiros de créditos iniciais, que nos apresenta à chegada da jovem ao aeroporto, ao som de Missing de The XX. Após a chegada à casa da sogra, há um clima de constrangimento que sugere que há algo de errado, no entanto, as duas mulheres criam um forte laço emocional conforme esperam pela vinda do filho/amante.

Há uma série de elementos narrativos evidenciados de acordo com a subjetividade de cada espectador, então tomei a decisão de deixar de fora da sinopse tais detalhes, com a intenção de preservar algumas (possíveis) surpresas. Pode-se dizer, ao menos, que A Espera parte de um conceito que poderia muito bem ser a premissa de uma comédia de erros originada da década de 80 caso não fosse realizada com a tamanha sensibilidade da direção e das duas atrizes centrais (deve-se também à sutil ambientação no início da década passada, limitando a presença da tecnologia na trama). Favorecidas pelo despojo de Messina, Binoche e Laâge ambas entregam interpretações riquíssimas e cheias de energia, complementando uma à outra de maneira natural e por vezes tocante, tornando sua relação em algo bem maior que a soma de suas duas partes.

Correspondendo às expectativas iniciais, Messina compõe uma leva de momentos que agradam aos sentidos, pontuando-os com uma dose de maturidade meditativa nas trocas de diálogo entre sogra e nora. Assistido pela fotografia texturizada e contrastada de Francesco Di Giacomo e a montagem economicamente refinada de Paola Freddi, o jovem diretor faz também uso poderosamente inteligente de músicas não-originais, como no momento simultaneamente sedutor e melancólico em que Jeanne, observada por Anna, dança com dois estranhos ao som de Waiting for the Miracle, do recentemente falecido mestre Leonard Cohen. Messina também conclui a obra de maneira poderosa, deixando forte impressão de um futuro promissor como realizador.

A Espera, contudo, não será um filme para todos. Deve-se se entregar à sua proposta que, a princípio implausível, prova-se como uma reflexão inesperadamente fascinante sobre como lidamos com nossas perdas e os laços que, com elas, desatam-se.

FICHA TÉCNICA
Direção: 
Piero Messina
Roteiro: Piero Messina, Giacomo Bendotti, Ilaria Macchia, Andrea Paolo Massara
Elenco: Juliette Binoche, Lou de Laâge, Giorgio Colangeli
Produção: Carlotta Calori, Francesca Cima, Fabio Conversi, Nicola Giuliano, Jérôme Seydoux
Fotografia: Francesco Di Giacomo
Montagem: Paola Freddi
Duração: 100 min
Distribuição: Imovision
Gênero:  Drama

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.