Crítica: A Garota na Névoa

Crítica: A Garota na Névoa

Os pecados de todos

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Dizer que o italiano Donato Carrisi é o autor do suspense A Garota na Névoa soa moderado. Ele não apenas escreveu o livro no qual o filme se baseia, como também foi responsável por escrever o roteiro do longa e dirigir. Exercendo pela primeira vez a função de cineasta, Carrisi conduz a trama que conhece tão bem de maneira correta, sem tentar disfarçar uma aproximação com o que Hollywood costumeiramente faz com o gênero, especialmente a safra recente, de Garota Exemplar e Boneco de Neve.

Se não é tão instigante quanto o filme dirigido por David Fincher estrelado por Ben Affleck e Rosamund Pike, A Garota na Névoa é muito mais redondo que o problemático thriller protagonizado por Michael Fassbender.

Carrisi conta com a ajuda do grande ator da Itália na atualidade, Toni Servillo (de A Grande Beleza). Ele interpreta o inspetor Vogel, que numa noite vai parar na delegacia após um acontecimento violento e misterioso. Lá, tem uma longa conversa com o psiquiatra Augusto Flores (Jean Reno), contando como o caso do desaparecimento de uma adolescente reservada e religiosa o levou até ali.

Vogel é um personagem repleto de contradições, o que lhe torna mais interessante de se acompanhar. É extremamente vaidoso, no limite da arrogância, e tenta manipular os holofotes sempre a seu favor. Irá descobrir que carrega na personalidade muita coisa em comum com o homem que persegue.

O filme apresenta personagens e subtramas aos poucos, e tem o mérito de não usar elementos meramente para confundir o espectador. Tudo que é apresentado faz parte de um quebra-cabeça concluído apenas na cena final, ainda que em alguns momentos a explicação fique didática demais, utilizando recursos como a repetição de um discurso visto em cena anterior para relembrar sua ambiguidade, à luz das novas revelações do enredo.

Esteticamente, A Garota na Névoa aposta na cartilha básica do suspense. As cenas internas usam jogos de luz e sombra para sublinhar o caráter dúbio de seus indivíduos. Já as sequências externas tiram proveito da região montanhosa da Itália, com sua geografia sinuosa e sombria, especialmente durante o gélido inverno.

A trilha sonora ainda tem um atrativo a mais para os brasileiros, já que “Dança da Solidão”, na interpretação da cantora Beth Carvalho, é tocada em alguns pontos-chave. A composição de Paulinho da Viola parece uma escolha estranha para música de fundo de um dos instantes mais violentos do longa, mas acaba traduzindo certa melancolia que é comum à alma da maioria daqueles personagens.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil