Crítica: Cadáver

Crítica: Cadáver

Posessão estranha, direção sem manha

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Sabendo que ter um necrotério como única locação garantiria o clima propício para um terror suficientemente bom, o diretor Diederik Van Rooijen conseguiu fazer o mais difícil: contar uma história pouco criativa com artifícios pobres e, por fim, tornar o filme mais esquecível do que parecia possível.

Megan Reed (Shay Mitchell) é uma mulher cética e policial reformada que luta contra seus traumas, além de ter uma relação complicada com o ex-namorado. Após aceitar um emprego noturno em um necrotério, Megan acredita que poderá dar um rumo à sua vida, porém com a chegada de um cadáver misterioso, suas certezas são colocadas em jogo e sua vida também.

Dentro dessa premissa, o roteiro não perde tempo para apresentar os poucos e insignificantes personagens secundários que, além de não serem desenvolvidos e muito menos bem interpretados, acabam por atrapalhar a imersão aterrorizante que a presença de uma protagonista sozinha em um necrotério poderia trazer. O que também não ajuda é o fato do roteiro não saber se decidir se a presença maligna é uma simples pessoa possuída por um demônio, ou se é um espírito maligno que parece estar em dois lugares ao mesmo tempo.

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Não faltam as famigeradas decisões burras, tanto da protagonista quanto dos outros personagens, que não servem nem para nós deixar angustiados, pois na verdade não nos importamos o suficiente com eles. A narrativa ainda insere tentativas desesperadas de dar personalidade à Megan, como a necessidade de ter consigo um remédio (calmante) que era de seu ex-namorado (o qual possui uma relação próxima demais para ser verdade), ou mesmo um trauma de quando trabalhava como policial, que não trazem nenhuma importância para a história.

Os corredores escuros mais desnorteiam nossa noção espacial do que nos deixam tenso, assim como a maquiagem de Hannah, que não causa medo e nos confunde sobre a intenção da direção, que por vezes parece mais tentar sexualizar a personagem do que torná-la amedrontadora.

Cadáver não cumpre sua função como filme de terror em nenhum momento, apesar de alguns sustos previsíveis. Sem envolver com seus personagens e sua história, o roteiro deixa o público apático durante quase uma hora e meia de sessão. A produção com certeza não chega aos pés da profundidade dramática e aterrorizante de A Autópsia, que realmente soube como criar tensão de maneira inteligente e com uma direção segura dentro de um necrotério.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.