Crítica: Cartas Para Um Ladrão de Livros

Crítica: Cartas Para Um Ladrão de Livros

Projeto de cinco anos sobre ladrão de livros raros também aborda questões sobre preservação do patrimônio histórico brasileiro

Utilizando como ponto inicial a troca de correspondências entre um dos diretores e Laéssio Rodrigues de Oliveira, figura conhecida como o maior ladrão de livros raros do país, o documentário Cartas Para Um Ladrão de Livros aproveita seu personagem para abordar questões complicadas e que geram grande debate: se é tão fácil roubar documentos e livros históricos do nosso país, quão preservadas estão tais obras?

Dentre seus roubos, o caso mais “famoso” é o furto de mais de 2000 documentos oficiais do Palácio do Itamaraty do Rio de Janeiro. Laéssio, no entanto, não se envergonha e não se arrepende de tais ações, deixando claro que nunca teve dificuldades em agir dessa maneira. Por também serem jornalistas, os diretores Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini trabalham bem os diversos lados da história e, sem tomar um lado, expõem diversas opiniões e visões sobre seu personagem principal.

Ouvimos depoimentos do bibliotecário do Museu Nacional, que insiste que não vale a pena nem citar o nome de Laéssio, um mero “criminoso e vigarista”, como também ouvimos um antigo amigo que presenciou alguns furtos e teve medo de ser considerado cúmplice. Claramente incomodado pelo fato de Laéssio ganhar um filme só para ele, afirma que tudo o que ele queria é atenção. De fato, acabou conseguindo bastante.

Cartas Para Um Ladrão de Livros torna Laéssio uma figura ambígua: ele é simpático e engraçado, se expressa muito bem e sempre possui um semblante tranquilo, sem culpa alguma. Por outro lado, é impossível esquecer dos crimes que cometeu. Ao analisarmos a pessoa real por trás da figura conhecida nos jornais e na televisão, vemos que a abordagem e o tempo que os diretores dedicaram valeu a pena, pois um rico trabalho de humanidade foi entregue sem sombra de dúvidas. A questão que Laéssio toca e que marca para o espectador, é se a maioria da população entende (ou se interessa verdadeiramente) pelas tais obras que foram furtadas. A maneira como enxergamos – ou não – a nossa própria história é o que acaba ficando em pauta, afinal.

 

Direção
Caio Cavechini
Carlos Juliano Barros
https://vimeo.com/232579851

Barbara Demerov