Crítica: Deuses Americanos (1º temporada)

Crítica: Deuses Americanos (1º temporada)

Essa crítica não contém spoilers. Fique tranquilo!

Adaptar livros para o cinema ou televisão não é uma tarefa fácil, independente da densidade da obra. Mas transformar em série uma das histórias de maior sucesso de Neil Gaiman, foi capaz de surpreender – e também desesperar – diversos fãs do escritor. Transmitida pelo canal Starz e criada por Bryan Fuller e Michael Green, além do próprio Gaiman, que faz parte do time de produtores executivos, Deuses Americanos entregou oito capítulos incríveis para o público.

Na trama, após cumprir três anos de prisão, Shadow Moon (Rick Whittle) recebe a notícia de que sua esposa, Laura (Emily Browning), morreu em um acidente poucos dias antes do fim de sua sentença. Durante a viagem para o enterro, o personagem conhece Wednesday (Ian McShane), um sujeito estranho que oferece um emprego duvidoso: Shadow Moon precisa ser seu guarda-costas até que sua missão esteja completa. Sem muita opção, Shadow aceita a proposta e se vê no meio de uma guerra entre os velhos e novos deuses.

Deuses Americanos acerta em diversos pontos. Logo no episódio piloto, conseguimos perceber a atmosfera surreal e tensa que cerca toda a história, que naturalmente apresenta mais questões reflexivas do que respostas. Enquanto todo o universo de deuses mitológicos é mostrado diante dos nossos olhos, Shadow Moon é o personagem que nos representa em diversos momentos. No meio de histórias fantásticas demais para serem reais, ele está perdido, assim como nós estaríamos em seu lugar: o personagem, inclusive, tem as mesmas reações que o público e, dessa forma, a identificação fica ainda mais evidente.

A forma como a história de Neil Gaiman foi adaptada também é um acerto imenso. E com o escritor acompanhando de perto a produção, não poderia ser diferente. Aos que já tiveram a oportunidade de ler o livro, uma ótima notícia: a série não deixa a desejar e transmite, com fidelidade, muitas partes da obra. Algumas não foram tão bem explicadas como deveriam, o que se deve ao número de episódios: OITO! A impressão que dá ao fim da série é que mais alguns episódios (dois ou três, no máximo) deixariam algumas partes mais claras. Mesmo assim, Deuses Americanos não perde a qualidade por isso e também não deixa de ser uma produção ousada. Bem no estilo da HBO, acompanhamos cenas explícitas de sexo e um banho de sangue sem fim, tudo muito bem feito. Um pequeno erro está no excesso de efeitos especiais, que funcionam bem em algumas cenas, mas em outras, não.

O mais incrível de Deuses Americanos é que essa não é uma história previsível e, para melhorar, possui críticas sociais muito boas sobre racismo, machismo e misoginia. Algumas vezes isso se apresenta na história em forma de metáforas, mas geralmente é tudo muito claro e feito para incomodar. Com a premissa simples de que ‘deuses só são reais quando acreditamos neles’, a série se desenvolve de um jeito excelente. Não há, em Deuses Americanos, uma queda no ritmo da história. A narrativa se mantém interessante do começo até o fim, sem perder a sua magia. Tudo fica ainda melhor se pensarmos que a história é mais real do que parece. Com a tecnologia avançada, as pessoas passaram a adorar os celulares e computadores, ao invés de orar para os deuses do passado.

As atuações também são excelentes, com destaque para Ian McShane no papel de Wednesday. É necessário admitir que ele rouba a cena por ser um personagem complexo e misterioso, mas que, simultaneamente, carrega a responsabilidade de ser o alívio cômico. E o ator consegue com maestria passar essas diferentes faces de Wednesday.

Deuses Americanos encerra a primeira temporada com louvor e, por isso, já foi renovada. A expectativa é que a série tenha mais capítulos, mas continue mantendo a qualidade. É possível assistir Deuses Americanos na Amazon e eu garanto que vale a pena gastar o seu tempo com essa série. Todos os episódios já estão disponíveis!

Jaquelini Cornachioni

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