Crítica: Divinas Divas

Crítica: Divinas Divas

Mais uma pérola do cinema brasileiro

Antes mesmo da estreia oficial do documentário, Leandra Leal e suas oito divas já encantaram o público e os jornalistas no Festival do Rio em 2016, e também nos Estados Unidos durante o festival South by Southwest (SXSW). Sua primeira empreitada como diretora, o filme documentário Divinas Divas representa mais do que um desafio profissional e até mais do que todos os prêmios que já conquistou. Com estreia em circuito nacional marcada para 22 de junho, o longa é uma belíssima carta de amor ao passado familiar de Leandra no Teatro Rival (RJ) e a primeira geração de travestis no Brasil, formada por Rogéria, Valéria, Jane di Castro, Camille K., Fujica de Holliday, Eloína, Marquesa e Brigitte de Búzios.

Desde a linda introdução, demarcada por muitas cores, fica a impressão de que o que veremos a seguir é glamour e delicadeza do início ao fim. E realmente é isso mesmo. Com narrações em off da própria diretora (o que ajuda o espectador a se comover e participar ainda mais da história que se desenrola) e a apresentação de cada uma das divas de maneira sutil e cuidadosa, Divinas Divas é um filme perfeito para qualquer nicho: seja aquele que se interessa por uma pontinha de História sobre o nosso país, aquele que deseja conhecer mais sobre o que os travestis passaram no período da Ditadura Militar, ou aquele que gostaria de assistir a uma obra atual e marcante que navega pela nostalgia, amor, aceitação e, sobretudo, pela arte.

Todos esses elementos se encaixam perfeitamente na obra sem soar artificiais ou forçados, assim como todas as emoções que o filme transparece, extremamente genuínas. É lindo conhecer a história de cada uma, os desafios impostos pela sociedade (e até pela família) e todas as barreiras ultrapassadas. É emocionante também ver como elas foram fortes nos últimos 50 anos. Mas, por outro lado, é triste refletir que, mesmo após quase meio século, pouco se fez para melhorar a qualidade de vida dos travestis no Brasil (país que mais mata essas pessoas). Na verdade, o cenário é retrógrado, pois ao menos no passado elas eram (e ainda são) consideradas artistas mundo afora e trabalharam muito para conquistar tudo o que falam com tanto orgulho. Hoje, o ano é 2017, mas seja na política ou, principalmente, por parte da sociedade, não há respeito suficiente para integrar essas pessoas e analisar que não há nada a se temer ou até mesmo “entender”.

Divinas Divas é um projeto especial para Leandra Leal pois passeia por locais, pessoas e momentos que a artista visitou, conheceu e viveu. Além de diretora, ela é uma personagem importante do filme e é igualmente importante para todas as divas, o que chega a comover mais ainda.

Por mais que não possua nenhum teor político, a obra pode muito bem ser utilizada como um meio audiovisual que pode ajudar a sociedade a simplesmente aceitar o ser humano como ele é, e não do jeito que o preconceito fala. Enquanto arte, Divinas Divas prova muito bem seu valor. O carinho que Leandra expõe por essa realidade na direção, intercalado com vários momentos de delicadeza, eleva a obra a níveis infindáveis de reflexões – ora deixando um sorriso no rosto, ora deixando algumas lágrimas. É inevitável refletirmos sobre o que as oito divas passaram, pois a naturalidade de seus depoimentos é captada da melhor forma possível. Se como atriz Leandra já merece ser reconhecida, como diretora ela merece muito mais.

Para as pessoas que entendem na pele o que todas elas passaram, a experiência de assistir Divinas Divas deve ser muito mais poderosa. Para mim, uma mera espectadora que não faz ideia de como é viver tudo o que foi contado em tela, só resta apenas uma coisa: admirar. E, mais do que nunca: respeitar.

Barbara Demerov

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