Crítica: A Jew Must Die

Crítica: A Jew Must Die

Este filme faz parte da programação oficial da 41ªMostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Adaptar uma memória para o cinema é algo certamente complicado. A Jew Must Die, dirigido por Jacob Berger, adapta o livro de Jacques Chessex sobre eventos traumatizantes que o autor vivenciou em sua infância, em Payerne, Suíça, em meio ao levante do nazismo na Europa. Parte do Foco Suíça desta 41ª Mostra, o filme apresenta uma mensagem necessária e uma moldura de tempo curiosa, mas deixa a desejar na exploração de seu mais importante personagem.

Logo de início, desavisados podem estranhar a presença de carros e aparelhos contemporâneos dividindo planos com personagens do passado. Trata-se de uma solução interessante de Berger para deixar claro que tudo o que se vê é uma reconstituição do próprio Chessex (André Wilms), de volta à sua cidade natal. Infelizmente, o roteiro é indeciso quanto à perspectiva que acompanha, muitas vezes deixando Chessex, menino e homem, de lado.

O foco maior da narrativa recai sobre a gangue de jovens nazistas encabeçada por Fernand Ischi (Aurelién Patouillard). O extremismo do grupo é logo identificado quando, através de um tiro ao alvo, escolhem sua vítima, Arthur Bloch (Bruno Ganz), um vendedor de gado judeu que vive na cidade. Ainda que tal núcleo consista de boas interpretações, o tempo dedicado às maquinações e execução do crime faz sentir falta de uma maior exploração da mente de Chessex, que surge pontualmente ao fundo e só ganha destaque nos minutos finais.

Claro, talvez o livro de Chessex seja exatamente isso: uma reconstituição da tragédia. Mas considerando que este é, afinal, um filme, Berger e seus co-roteiristas poderiam ter se beneficiado de uma maior liberdade dramática para dar volume ao seu personagem-narrador, que pelo menos conta com uma boa atuação de Wilms.

Há também ressalvas técnicas. A fotografia de Luciano Tovoli, apesar do bom uso de luz, peca pelas composições pouco memoráveis, sem muito aproveitamento da mescla entre passado e presente. O uso de chroma-key, ou tela verde, em diversas cenas de viagem chega a incomodar, principalmente em um momento (proposital talvez?) no qual o fundo se move horizontalmente, ao contrário dos personagens, que se movem em direção ao público. A montagem, por sua vez, é prejudicada pelo material decupado com pouca criatividade.

No fim das contas, A Jew Must Die serve pelo menos como apresentação da relevância de Chessex e seu protesto de uma sociedade que parece ignorar os reflexos brutais do nazismo na Europa. Fechando o filme, imagens de saudações a Hitler em meio às praças de Payerne, região que, no tempo retratado, era considerada neutra e pacífica. Não dá pra não pensar em Charlottesville.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

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