Crítica: Kin

Crítica: Kin

Aventura deixa ficção-científica em segundo plano para se concentrar em personagens excluídos da sociedade

Imagem do filme 'Kin'

A cidade de Detroit é um personagem importante dos momentos iniciais de Kin. Famosa até meados do século XX por ser lar de fábricas automotivas como GM e Ford, a região viveu uma crise intensa a partir da segunda metade dos anos 70, com o fechamento de milhares de postos de trabalho por conta da entrada de montadoras estrangeiras no mercado norte-americano. Até que, julho de 2013, o município pediu falência.

O filme dos irmãos Jonathan e Josh Baker, que adaptam o curta-metragem feito por eles mesmos Bag Man (2014), não é exatamente sobre isso. Mas o ambiente decadente de Detroit torna-se o cenário perfeito para o ponto de partida desta história. É lá que o garoto Eli (o estreante Myles Truitt) perambula montado em sua bicicleta, filmado em planos abertos enquanto passa por prédios abandonados em busca de restos de construções desocupadas para vender no ferro velho. Numa destas andanças, o jovem se depara com corpos decepados revestidos em armaduras espaciais e um objeto extremamente poderoso: uma arma capaz de reduzir seu alvo a pó, com um simples toque no gatilho.

O clima cinzento da cidade também se reflete na casa onde Eli mora com o pai adotivo (Dennis Quaid), viúvo e rígido. A volta do irmão mais velho Jimmy (Jack Reynor) depois de uma temporada na prisão mexe com as coisas, e não de uma maneira boa. Ele é perseguido por uma gangue criminosa e, depois que um acerto de contas dá errado, é forçado a fugir levando o caçula a tiracolo.

A aventura ganha então contornos de road movie. Irmãos não-biológicos e privados de muito contato até então, Eli e Jimmy forjam na estrada um laço entre eles que passa a guiar o roteiro. A fantasia com elementos de ficção-científica passa a ocupar um segundo plano, dando lugar à relação entre os personagens, reforçados ainda pela entrada em cena da stripper de bom coração Milly (Zoe Kravitz).

A fórmula de juntar três excluídos da sociedade norte-americana (no caso um adolescente negro, um ex-presidiário e uma stripper) tentando escapar de problemas não é exatamente nova, mas aqui funciona pelo entrosamento do elenco, que ainda tem James Franco. O ator aparece como o vilão, um traficante tão exagerado que diverte.

Feito sob medida para uma matinê descompromissada, o longa pode frustrar quem estiver mais interessado em sua porção sci-fi. Esta só volta a ficar mais evidente no desfecho, quando um grande nome da Hollywood contemporânea aparece de surpresa para um diálogo com ecos de Exterminador do Futuro – a franquia estrelada por Arnold Schwarzenegger já tinha sido homenageada de relance numa cena em um fliperama, inclusive.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil