Crítica: Lady Bird – A Hora de Voar

Crítica: Lady Bird – A Hora de Voar

Um filme “de menina” para todos os públicos

Dentre os nove filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme em 2018, temos guerra, terror, fantasia… Mas em meio a grandiosidade que Dunkirk propaga, ou a sensibilidade de encher os olhos que A Forma da Água apresenta, temos Lady Bird. Temos Cristine. Uma garota simples, com medos, ambições e um destino tão variável quanto a vida em si. É dentro dessa aparente simplicidade que se encontra um dos roteiros mais interessantes e caprichados desta edição da grande premiação.

Ao vermos a jornada de autodescoberta de Cristine/Lady Bird (Saoirse Ronan, formidável), torna-se impossível o espectador não encontrar um pedacinho de si mesmo em alguma cena, algum local ou algum personagem. Greta sabe que sua história possui clichês andantes para todos os lados, mas ela não deixa que tais elementos caiam na mesmice, pois mira os holofotes nas relações interpessoais de seus personagens – em especial, Cristine e sua mãe (a incrível Laurie Metcalf). Através da protagonista, o foco é humanizar (sem suavizar muito) o sonho de juventude, o olhar afastado do que está, de fato, próximo. Inclusive, quem assistiu Quase 18 certamente notará a semelhança no tratamento de ambas as protagonistas.

Cristine, às vésperas de se formar no colégio católico, sonha em se mudar para longe de casa e mantém uma relação complicada com a família. O foco em estudar e morar em Nova York é grande e, por muitas vezes, soa um tanto distante; mas a determinação em seguir seu instinto ultrapassa as adversidades. Mesclando a concepção deste sonho, acompanhamos a jovem em aventuras e desilusões amorosas, discussões com a melhor amiga Julie (Beanie Feldstein), e na pressão de ser aceita pelo lado popular do colégio. Tudo isso enquanto esconde de sua mãe a intenção de ir para uma Universidade em outro estado, e não reparar tanto no quanto seu pai desempregado (Tracy Letts) também sofre.

A maior força do filme de Greta Gerwig (que estreia segura na direção, de maneira praticamente autobiográfica) recai no roteiro, recheado de palavras proferidas com uma eletricidade tocante. Além disso, a cidade de Sacramento, na Califórnia, serve como palco para as situações apresentadas e também como um personagem com a capacidade de ser identificado pelo espectador pelas mais diversas razões. Essa é a graça: Sacramento pode ser qualquer cidade do mundo, pois a história contada aqui é universal e completamente “comum”. O que há de mais belo em Lady Bird – A Hora de Voar é que Greta não tenta mostrar nada além de uma história despretensiosa, deixando a poesia e a beleza nas entrelinhas – mas somente para quem estiver disposto a enxergá-las. Essa não é só a história de Cristine, ou de Greta. A personagem é um pouco de todos nós e representa muito bem, como diz Caetano Veloso, a dor e a delícia de ser o que é.

Mais do que um filme de menina feito para meninas, mais do que retratar o vácuo que é o período entre juventude e vida adulta: Lady Bird – A Hora de Voar irradia, através de sua protagonista, a arrogância que dá as caras com a puberdade, a ingenuidade à frente de novas experiências e o constrangimento resultante de você ser você mesmo. Tudo o que faz parte desse processo que é simplesmente amadurecer. Enxergar e respeitar o que acontece à sua volta (e dentro de si mesma) com mais atenção é a maior lição que Cristine aprende ao longo do filme; por consequência, sentimos tudo isso novamente, junto com ela.

Barbara Demerov

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