Crítica: Me Chame Pelo Seu Nome

Crítica: Me Chame Pelo Seu Nome

Delicadeza e intensidade andam de mãos dadas no filme de Luca Guadagnino

Ainda estamos em Janeiro, mas devo dizer que Me Chame Pelo Seu Nome já entra no patamar de melhores filmes lançados no Brasil em 2018. Estrelando pela dupla Armie HammerTimothée Chalamet e dirigido por Luca Guadagnino, o filme possui alguns elementos já bem conhecidos pelo público, como a descoberta do primeiro grande amor e a paixão destinada a ser inesquecível. No entanto, a aproximação de Elio (Chalamet) e Oliver (Hammer) acontece de uma maneira tão tocante, bela e real, que o filme consegue ser tudo – exceto clichê.

Ambientado no norte da Itália, o cenário que o longa está inserido é um dos fatores que tornam a imersão do espectador praticamente imediata. Elio (que com 17 anos fala três línguas e transcreve/toca música clássica) é quem nos conduz pela acolhedora casa de seus pais, que também são extremamente sofisticados e inteligentes. Seu pai, Sr. Perlman (Michael Stuhlbarg), é acadêmico de artes e, durante todos os verões, recebe um pupilo para auxiliá-lo em suas pesquisas. No ano em que a história acontece, 1983, o estudante é Oliver, jovem americano que não demora nem um pouco para conquistar a todos da pequena cidade… inclusive Elio.

Cada etapa do relacionamento de ambos é desenvolvido com maestria pelo diretor, que capta detalhe por detalhe com carinho. Dessa maneira, é evidente a montanha-russa de sentimentos que vagam pela mente de Oliver e Elio – com o segundo tendo uma aproximação mais clara, conseguindo transmitir as inseguranças que todo jovem de 17 anos vive pelo menos uma vez com emoção e delicadeza.

Me Chame Pelo Seu Nome é deliciosamente colorido e convidativo. Sob o sol da Itália, na companhia dos hits do verão e longos passeios por lindos cenários, o filme é maravilhosamente orquestrado para contar uma das mais intensas histórias de amor dos últimos anos. E não é só isso. Os números – e emocionantes – diálogos que versam sobre o mais puro dos sentimentos são balanceados por momentos de puro silêncio e reflexão, que ora mostram resistência, ora mostram simplesmente o desafio de se manter equilibrado quando o novo é desvendado. Nesse quesito, Timothée Chalamet faz um excelente trabalho em absolutamente todos os sentidos.

A admiração que Elio nutre por Oliver é terna e sincera, porém demora para transparecer completamente. Oliver, com toda sua presença e personalidade, também entra um pouco no jogo de Elio, o que posteriormente resulta em divagações no estilo “poderíamos ter aproveitado muito mais se não tivéssemos enrolado tanto”. De início, a “lentidão” do relacionamento pode até parecer desnecessária, mas a vida não é isso, afinal? Um compilado de devaneios sobre o que poderia ser se tudo acontecesse de outra maneira.

Me Chame Pelo Seu Nome é sobre a importância da autodescoberta, a conquista de novas experiências e o vigor que um grande amor traz em vida. A clareza da história – juntamente da sublime direção e do roteiro cheio de pequenas pérolas em forma de palavras, transformam este filme em uma verdadeira obra de arte… com direito a um monólogo poderoso e comovente beirando seu desfecho.

Barbara Demerov