Crítica: O Castelo de Vidro

Crítica: O Castelo de Vidro

Fomos convidados pela Paris Filmes a assistir o filme O Castelo de Vidro, baseado no livro homônimo da autora Jeannette Walls. Contando uma história real e sendo lindamente dirigido, o longa tem a capacidade única de nos transportar para um mundo de sonhos, carinho, negligência, abuso e relacionamentos incrivelmente complexos.

O filme, dirigido por Destin Daniel Cretton (Short Term 12) e estrelando Brie Larson (Jeannette) e Woody Harrelson (Rex) como pai e filha, nos mostra sem piedade como relacionamentos podem ser infinitamente complicados e difíceis, e o quanto são mais complexos ainda quando se trata da pessoa mais importante de sua vida.

A história conta a jornada de uma família que não tem dinheiro e estão constantemente se mudando, deixando a vida das crianças uma bagunça sem fim. Com promessas vazias, Rex é um alcoólatra problemático mas extremamente genial. Ele é casado com Rose Mary (Naomi Watts) e, juntos, criam seus 4 filhos. Jeannette, Brian, Maureen e Lori têm uma relação aparentemente ótima com seus pais – até que começam a crescer e perceber que nada em suas vidas é tão equilibrado quanto os seus pais querem transparecer.

Entre ficar sem comer por dias, tomar banho em piscinas públicas e gestos fervorosos demais para que as crianças criem independência desde muito cedo, Rex maquia tudo dizendo que a família vive uma vida de “aventura” e que todas as outras famílias são entediantes e não sabem se divertir. Rose Mary, submissa, acredita em tudo isso e nunca fala ou luta o suficiente para que as coisas finalmente tomem outro rumo.

No meio de toda essa confusão, Rex promete – desde que as crianças são muito pequenas – que ele construirá um Castelo de Vidro para sua família e a vida deles magicamente melhorará.

Com flashbacks feitos de forma majestosa, vemos a história pelos olhos de Brie Larson (Jeannette), que vive uma vida de conforto e luxo quando adulta, querendo afastar e enterrar totalmente a infância difícil que ela e seus irmãos tiveram. Sua relação de amor e ódio com seu pai é o ponto principal do filme, nos fazendo esperar tanto por uma catarse entre os dois que algumas cenas acabam se tornando repetitivas.

Apesar de tudo, não tem como não sentir compaixão e pena de Rex quando fica claro que sua personalidade dura e sonhadora demais vem de uma infância marcadas de abuso sexual e depressão, mesmo que isso não justifique a negligência com sua própria família. Rex os ama de todo o coração e, ao mesmo tempo em que faria qualquer coisa por eles, ele mesmo não consegue superar o próprio passado sombrio para cuidar de seus filhos da melhor forma possível.

A fotografia é uma das melhores coisas na obra, com cenas surpreendentemente coloridas e vibrantes, mostrando que nem tudo foi perda de tempo. Rex e seus filhos passam por momentos difíceis e maravilhosos durante o filme, e isso fica claro em sua beleza. Woody Harrelson absolutamente brilha em seu papel como o patriarca da família Rex. Suas cenas com Brie Larsson são todas intensas e mil sentimentos são derramados em sua brilhante atuação.

Apesar do filme se estender um pouco, O Castelo de Vidro consegue transparecer de forma majestosa toda a história dessa família do começo ao fim. Não há como segurar as lágrimas em uma das cenas finais entre Jeannette e Rex – que é, também, a melhor cena do filme.

FICHA TÉCNICA
Direção: Destin Daniel Cretton
Roteiro: Andrew Lanham, Destin Daniel Cretton, Jeannette Walls
Produção: Gil Netter, Ken Kao
Fotografia: Brett Pawlak
Montador: Nat Sanders
Trilha Sonora: Joel P. West
Duração: 127 min.

Letícia Piroutek