O novo (e velho) Logan

O novo (e velho) Logan

Acredito que a grande maioria das pessoas que está indo aos cinemas neste momento para assistir Logan já conhece o personagem de trás para frente. Desde a virada do século XXI, quando Bryan Singer dirigiu o filme que daria um brilhante recomeço aos filmes de herói, eu (e os milhões de fãs de quadrinhos espalhados pelo mundo) recebemos um grande presente que se estenderia por anos. Tinha apenas oito anos quando assisti X-Men, mas até hoje me lembro das sensações que tive ao assisti-lo – e não é a toa que ele se tornou um dos meus filmes favoritos do gênero. Podem afirmar à vontade que X2 é melhor, mas, para mim, o primeiro capítulo da já extensa franquia dos mutantes da Marvel é o que ocupa aquele lugar cativo em meu coração. Mas por que? Porque dois personagens o tornaram ainda mais especial: Wolverine e Rogue (Vampira). Eu era uma criança que não sabia exatamente do que o filme se tratava, mas a partir daquela cena com os dois na caminhonete, a relação entre os mutantes foi o que me prendeu de imediato, de uma maneira quase mágica. Foi apenas anos depois, vendo e revendo X-Men, que eu consegui entender o motivo pelo qual aquele homem carrancudo e de espírito carregado era tão distante com todo mundo, por mais que se importasse com as pessoas ao seu redor.

Wolverine, junto com Batman, Superman e Homem-Aranha, é o herói mais trabalhado nas adaptações cinematográficas que nasceram dos quadrinhos. Por mais que ele só tenha dois filmes-solo (sem contar Logan), em quase todas as produções dos mutantes ele tem o foco tomado para si. E não é por ser, talvez, o mutante mais famoso da saga: ele conquistou tal espaço por conta do carisma inigualável de Hugh Jackman, que teve basicamente toda a sua carreira moldada por este personagem tão singular. Wolverine e Logan. Logan e Wolverine. Há anos (17, para ser mais exata) vemos em tela mais Wolverine do que Logan e a chance de ver o contrário parecia algo distante, afinal, humanizar um personagem com o poder da regeneração, tão marcado por sua violência, poderia não dar tão certo. Eu simplesmente nunca imaginei que um dia assistiria na telona o outro lado da Arma X, mas acontece que esse dia chegou e eu não poderia estar mais feliz… e triste, ao mesmo tempo. Mas é exatamente essa a mistura de sentimentos que andam de mãos dadas no filme de James Mangold. A amargura, a descrença e a infelicidade andam lado a lado com o convívio no dia a dia, a preocupação, o propósito e o amor.

A mudança no tom, na abordagem, nas cenas de ação e nas atuações é praticamente gritante se compararmos aos filmes mais antigos com Wolverine. A representação do personagem chega perto de ser inigualável. Nunca vimos algo igual e provavelmente nunca veremos. Ele não é mais um X-Men, é apenas Logan, e o peso de seu passado é mais forte do que já havíamos visto antes. Agora, nosso herói mal-encarado está cansado, quer ainda mais distância das pessoas e se tornou alguém estagnado em um ponto que não tem mais volta. Tanto Logan quanto os espectadores sabem disso. A realidade crua que o filme passa pode deprimir os fãs que não estavam preparados para isso, mas por outro lado é importante perceber que, por mais triste que a alma do filme pareça ser, as pequenas doses de alegria na vida de Logan, Charles Xavier (Patrick Stewart) e da novata Laura/X-23 (Dafne Keen, que rouba a cena) compensam qualquer acontecimento dramático.

Logan é, como muitos estão falando por aí, o filme definitivo de Wolverine. Ele traz uma nova abordagem para a franquia X-Men como um todo e não hesita em expor uma realidade cruel e assustadora – que atinge até mesmo nossos grandes heróis dos quadrinhos e do cinema. É um filme movido em mostrar a importância de se ter uma família, dos laços que formamos em vida e no quanto é importante ter uma base sólida. No quanto é importante sabermos de onde viemos para termos alguma noção do que podemos fazer a seguir. Logan é, sim, um filme de herói, mas ao mesmo tempo recusa-se a se firmar somente a este gênero principalmente pelo fato de demonstrar que a força também reside nas coisas mais simples.

Logan traz o Wolverine que eu sempre quis, mas não sabia.

Barbara Demerov