Thelma & Louise x Garota Sombria Caminha pela Noite: O que esses dois filmes têm em comum?

Thelma & Louise x Garota Sombria Caminha pela Noite: O que esses dois filmes têm em comum?

Por Mayara Zago

Preto e branco e colorido. Colorido e preto e branco. Dois filmes e duas formas de expressar o empoderamento feminino. Thelma & Louise e Garota Sombria Caminha pela Noite são filmes que retratam, de formas diferentes, o espaço que a mulher pode conquistar na sociedade.

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Thelma & Louise é um filme em cores dirigido por Ridley Scott que tem duas protagonistas que sempre fizeram sucesso no cinema, Geena Davis e Susan Sarandon. A primeira é muito conhecida pelo seu papel na sequência do filme de animação Stuart Little e seu Oscar como melhor atriz coadjuvante em 1989 pelo filme O Turista Acidental (1988). Enquanto Susan é muito conhecida por seu papel como uma das protagonistas do filme The Rocky Horror Picture Show (1975) e sua atuação em Os Últimos Passos de um Homem (1995), pelo qual ganhou um Oscar de melhor atriz em 1996.

O longa, que estreou em 1991, tem como tema uma viagem de carro pelos Estados Unidos e conta a história de duas amigas que decidiram sair um pouco da rotina e passar um fim de semana em uma casa de campo. Com o desenrolar da viagem, as coisas não saem como o planejado.

Os pontos fortes ficam por conta da impecável atuação das duas protagonistas, que atrelada aos diálogos, fazem o filme ficar leve e divertido. As cenas são bem construídas e as músicas combinam bastante com o filme estilo Road trip de Scott.

A questão que mais chama a atenção no desenrolar da trama é o tema por trás da história das personagens, sempre focando no empoderamento feminino. As personagens demonstram bem, através de suas personalidades, a mulher se dando conta da liberdade e autonomia que a mesma tinha sobre seu próprio corpo e sua vida, promovendo mudanças e mudando seus destinos.

A história de Thelma e Louise chega a lembrar um pouco a história do filme Histórias Cruzadas de 2012, porque foi um filme que em sua trama explorou bastante essa mesma relação de quebra de ‘costumes’ e imposições para a mulher, apresentando personagens femininas fortes que tinham a própria autonomia de fazer o que elas queriam.

Histórias Cruzadas ainda é uma boa pedida, principalmente para quem tem interesse nos estudos de classes sociais, gêneros, raças e etnias, pois explora esses assuntos em toda sua trama.

Na mesma linha de personagens femininas fortes, é possível encaixar o Garota Sombria Caminha pela Noite, de 2014. No filme, a presença da personagem principal é ressaltada apenas pelos seus olhos, o que a torna expressiva e denota o poder da protagonista. Característica que ao longo da obra é muito importante para a sua construção.

O filme, dirigido por Ana Lily Amirpour (que também atua no filme), é um romance com uma pitada de terror em preto e branco, que tem essa característica por explorar o contraste e a ausência das duas cores para definir a personalidade dada aos personagens.

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A história é sobre uma vampira que vive entre os humanos e em meio a mortes, que não são de grande alarde, decide deixar de lado os seus instintos por um momento e tomar atitudes que não seriam de grande importância para um ser sobrenatural.

Com a atuação dos dois protagonistas, Sheila Vand e Arash Marandi, o filme se torna interessante do ponto de vista cinematográfico. A química entre os dois personagens é ótima e as cenas são muito bem montadas, o que permite perceber a preocupação da diretora na linguagem fotográfica do filme.

Em contraposição a isso, algumas cenas são um pouco monótonas em se tratar, principalmente, da repetição de conceitos fotográficos já apresentados, que não interferem ou acrescentam em nada à análise do longa.

A temática de vampiros escondidos na sociedade contemporânea é muito recorrente quando se trata do sobrenatural nos cinemas, ficando atrás somente de zumbis. A personagem de Sheila Vand é a vampira e ela lembra muito o filme A Hora do Espanto (que foi regravado em 2011), pois em ambos os filmes o vampiro é colocado mais perto da realidade das pessoas, sendo capaz de estar escondido e camuflado em uma sociedade sem perder o hábito de seguir seus instintos.

Outro aspecto interessante de Garota Sombria Caminha pela Noite é a semelhança com a série televisiva de drama The Vampire Diaries, que atualmente está em sua oitava e última temporada.

Contudo, o que mais se assemelha entre as duas obras não é somente a temática, mas sim a proposta de Amirpour e da produtora executiva da série Julie Plec: a humanização de vampiros escondidos na sociedade, que mesmo parecido com a proposta de A Hora do Espanto, se diferencia pela escolha dada aos personagens de não se alimentar de pessoas. O que torna tanto The Vampire Diaries quanto Garota Sombria Caminha pela Noite, duas obras com o mesmo ponto forte.

Por fim, Amirpour acerta na dose, mas este é um filme que requer o olhar atento do espectador. A música meio alternativa pseudo indie-rock dá um toque de filme ‘underground’, como se trouxesse tudo o que acontece na escuridão ao olhar curioso do espectador. Por isso e os outros pontos apresentados, a atenção é válida mas não é necessitada, por se tratar de uma obra que existe sem a aprovação e que, só por existir, já entra para a história do cinema.

Mayara Zago