True Detective: o que a escolha do diretor Jeremy Saulnier representa para a série

True Detective: o que a escolha do diretor Jeremy Saulnier representa para a série

Há algum tempo atrás, o ganhador do Oscar™ Mahershala Ali (Moonlight) foi anunciado como protagonista da misteriosa terceira temporada da série True Detective. Outro anúncio também trouxe luz ao fato de Nic Pizzolatto, criador da série, fará sua estreia como diretor em alguns dos novos episódios. Esta semana passada, contudo, trouxe outra novidade, desta vez ainda mais animadora. Jeremy Saulnier, diretor independente responsável pelos longas Ruína Azul e Sala Verde, entrará para a equipe também como diretor, colaborando com Pizzolatto. O quê este último significaria para a aclamada série? Apesar de ser relativamente desconhecido pelo grande público, há diversas razões para estar de olho em Saulnier.

A jovem obra de Jeremy Saulnier

Saulnier começou sua discreta carreira indie em 2007, com a comédia de Halloween Murder Party, aclamada pelos aficionados por filmes de gênero. Apenas cinco anos depois o diretor retornaria, desta vez com o suspense Ruína Azul, usando de uma abordagem bastante diferente de sua estreia, mas ainda trazendo um pouco de seu humor negro. O longa foi aclamado pela comunidade indie, sendo indicado ao prêmio John Cassavetes de Melhor Filme feito por menos de 500 mil dólares, no Film Independent Spirit Awards. O minúsculo orçamento é surpreendente, dada a qualidade estética do filme, que foi fotografado pelo próprio Saulnier. Com uma trama de vingança simples mas profunda, Ruína Azul é um dos grandes neo-noir americanos desta década. Por acaso falei de sua estreia na noite dos diretores em Cannes?

Em 2016, os cinéfilos contaram com o retorno de Saulnier ao festival, agora ainda mais audacioso em sua visceralidade. Também exibido na noite dos diretores, Sala Verde conta a história de uma jovem banda punk (encabeçada pelo falecido Anton Yelchin) que se vê encurralada dentro de um bar comandado por neo-nazistas. Com brilhantes momentos de tensão (principalmente a apresentação dos ousados protagonistas com a música Nazi Punks Fuck Off, dos Dead Kennedys), o suspense também se beneficia da imponente figura de Patrick Stewart como o principal antagonista, elevando o projeto para além de suas raízes B. Fugindo de qualquer pretensão vazia e focando na ação momentânea, Saulnier trouxe uma perspectiva refrescante para o novo cinema de terror americano.

Apesar da discrição, Saulnier já pode ser considerado um nome relativamente influente do cinema indie. Macon Blair, protagonista de Ruína Azul, fez sua estreia como diretor este ano com Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo, original Netflix que levou o grande prêmio do júri neste último festival de Sundance. Com claras inspirações em sua experiência profissional com Saulnier, Blair ajuda a difundir o estilo pessimista de Saulnier da mesma maneira com a qual os irmãos Coen fundaram sua reputação.

True Detective pode reconquistar o público?

Grande parte do público respondeu favoravelmente à primeira temporada de True Detective, dirigida exclusivamente por Cary Fukunaga (Jane Eyre). Desenrolada através de anos, a história dos detetives Rust e Marty hipnotizou o público com sua atmosfera única e um roteiro com grandes doses de existencialismo. Com o comando de Fukunaga, a sensação ganhou ainda mais volume, trazendo diversos momentos até hoje inesquecidos (aquele plano sequência? Imbatível). O nome True Detective parecia ter se tornado sinônimo de prestígio e peak TV, até que o ano de 2015 chegou.

Desde o anúncio da segunda temporada de True Detective, fãs coçavam suas cabeças. O elenco? Inusitado. A premissa? Estranha. As expectativas deixaram de ser claras no momento em que a HBO anunciou que a nova trama não seria conduzida por 1 diretor mas vários, seguindo o modelo da gigante Game of Thrones. Apesar dos sinais, um leve otimismo ainda persistia. Até ser completamente destruído. Com uma temporada lenta e repleta de personagens nada carismáticos, True Detective perdeu a admiração do público em sua segunda incursão. Nem mesmo a mente criativa de Pizzolatto parecia estar operando apropriadamente.

Dois anos depois, a série parece renascer das cinzas, criando hype com a série de anúncios mencionados acima. Porém, chega a uma terra de títulos ainda mais prestigiados, como The Handmaids Tale, The Leftovers, Mr. Robot, Westworld e claro, a sempre evoluída Game of Thrones. Até mesmo a Netflix, com Narcos, BoJack Horseman e Master of None, parece ofuscar o retorno da série policial.

Em tal clima, True Detective terá que se provar (de novo) como algo completamente diferente de sua concorrência, ainda mais depois do gosto amargo deixado pela temporada anterior. Por isso mesmo, a escolha de um autor como Jeremy Saulnier parece sinalizar uma profunda reflexão por parte da HBO, que também efetuou mudanças em GoT depois da conturbada recepção de sua quinta temporada. Como admirador de Saulnier e seus influenciados, altas expectativas são inevitáveis, ainda mais com a presença do excelente Ali em tela. É só esperar pra ver se Nic Pizzolatto também fez sua lição de casa.

Sala Verde está disponível para aluguel e compra no Google Play. True Detective, 1ª e 2ª temporadas, pode ser assistida através do serviço HBO GO.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.