Crítica: Paddington 2
O urso peruano volta aos cinemas com sequência que encanta crianças e adultos
O nome Paddington certamente não é dos mais familiares entre o grande público. Criado em 1958 por Michael Bond, o urso peruano é conhecido especialmente no território britânico, ganhando versões animadas diversas que iam dos desenhos 2D ao stop-motion. Com a onda de novas versões cinematográficas recheadas de computação gráfica, costume que já vem do final do século passado, era inevitável que Paddington fosse turbinado para um novo público. Alvin, Scooby-Doo e Os Smurfs que o digam.
Nesse contexto, o primeiro filme do urso estreou em 2015, e para grande surpresa dos críticos e pais, a adaptação contou com uma produção caprichada, piadas eficientes e interpretações bastante dignas de seu elenco majoritariamente britânico. Desde o início estabelecendo a história de origem de Paddington com pouco apego às explicações desnecessárias (leia-se: enrolação), o longa de Paul King construiu sua identidade na ingenuidade extrema e na falta de graves consequências, que por sua vez permitiam uma diversão bem descompromissada.
A história cativava desde o início: de uma raça quase extinta de ursos peruanos hiper-inteligentes, Paddington vivia na floresta com seus tios Pastuzo e Lucy (nas vozes de Michael Gambon e Imelda Staunton). Após um terremoto, foi obrigado a se mudar para Londres, onde é adotado pela família Brown. Henry (Hugh Bonnevile), o pai, tem dificuldades para aceitá-lo, enquanto a esposa Mary (Sally Hawkins, A Forma da Água), os filhos Judy (Madeleine Harris) e Jonathan (Samuel Joslin) e a avó Mrs. Bird (Julie Walters) pareciam enxergar algo de renovador no bicho, sempre bem-intencionado. Em menos de duas horas, o espectador já conseguia sentir um carinho pelo elenco de personagens.
Apenas três anos depois, em 2018, chega aos cinemas Paddington 2. Desta vez, voltamos a seguir o cotidiano de Paddington com a família Brown. Longe de sua tia Lucy há anos, o urso pretende visitá-la no Peru, mas antes disso comprar o presente perfeito para seu aniversário. É aí que o caminho do personagem se cruza com o de Phoenix Buchanan (um hilário Hugh Grant), ator decadente que, mestre dos disfarces, vive de roubos para se sustentar. Adivinhem: Buchanan também rouba o presente tão caro a Paddington. Cabe aos Brown ajudar Paddington em sua missão de capturar o criminoso.
Falando assim, fica bem claro que se trata de um filme direcionado ao público infantil. No entanto, assim como o primeiro filme, Paddington 2 conta com uma estrutura bastante prazerosa que traz uma sucessão frenética de boas piadas (muitas delas visuais) que agradarão qualquer um disposto a ter um senso de humor menos nocivo. E isso se dá pela sintonia de todas as partes: a direção criativa e enérgica de Paul King; um roteiro espirituoso de King e Simon Farnaby; as atuações magnéticas de um elenco bem-caracterizado, que agora inclui Brendan Gleeson como um chef mal-encarado; um trabalho de efeitos digitais que torna Paddington em uma convincente presença física em cena; e muito mais.
O humor é o principal aspecto a amadurecer desde o original. Apesar de eficiente, o filme de 2015 apostava em sacadas óbvias, principalmente no uso de músicas facilmente reconhecidas (até mesmo o tema de Missão Impossível surge em um momento semelhante à escalada do prédio em Protocolo Fantasma). Não era um problema, pois surtia o efeito pretendido. Já em Paddington 2, a comédia segue uma linha mais sofisticada, com piadas melhor estruturadas (como o momento da visita dos Brown à prisão) e um uso mais criativo dos valores de produção (enquanto o original contava com uma simplória luta final, aqui se tem toda uma sequência de ação e humor envolvendo dois trens). Há também ótimas referências ao primeiro longa, como um certo policial que costuma se apaixonar por mulheres incomumente atraentes.
Entre outras melhoras, há o rico design de produção por Gary Williamson que torna essa versão fictícia de Londres mais variada. Há um circo, uma catedral, uma prisão e diversas casas que contam com estilos ecléticos entre si, realçados pela vasta gama de cores que preenchem a tela. A fotografia de Erik Wilson então cobre tudo com uma temperatura de luz quente e convidativa, também suavizando as imagens na medida que ganham uma atmosfera mágica. Já a trilha do vencedor do Oscar® Dario Marianelli alimenta o clima aventuresco da história além de manter um nível saudável de doçura, enquanto as canções do grupo Tobago and d’Lime (que fazem pontas nos dois filmes) são simplesmente uma injeção a mais de alegria.
Produzido por David Heyman, da franquia Harry Potter, Paddington 2 é o tipo de filme infanto-juvenil que parece um animal raro nos dias de hoje. Como nos filmes do jovem bruxo, há tamanha dedicação posta nos menores detalhes que chega a ser difícil não ser transportado para o mundo de Paddington. Tudo isso para dizer que, sim: Paddington 2 irá entreter as crianças em diversos níveis. Contudo, não serão apenas os pequenos que estarão encantados.
Obs.: fiquem até depois dos créditos para uma grata surpresa!
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