Crítica: O Passageiro
Ainda que com uma narrativa simples, o novo filme de Jaume Collet-Serra intriga e cria apreensão no espectador
Jaume Collet-Serra é um diretor conhecido por filmes com premissas semelhantes que descartam o potencial do roteiro e buscam apenas entreter o espectador através do audiovisual. Embora tenha obtido sucesso com o suspense Águas Rasas (2016), muitos não conseguem notar tanta diferença entre suas outras obras, vendo que estas mesclam uma espécie de thriller psicológico de ação com suspense, todas protagonizadas por Liam Neeson. Admito que há muita preguiça e falta de originalidade em seus filmes, mas apesar dessa “receita de bolo”, Collet-Serra consegue entreter o espectador através de uma direção segura. É com certeza o caso de O Passageiro.
Após ser demitido de seu trabalho, Michael (Liam Neeson), um vendedor de seguros em seu trajeto usual de volta para casa, é confrontado por uma estranha misteriosa chamada Joanna (Vera Farmiga). Ela lhe faz uma proposta em troca de 100 mil dólares: descobrir a identidade de um dos passageiros do trem que carrega informações confidenciais dentro de uma maleta. Com a rotina quebrada e com dificuldades financeiras, o homem aceita a proposta e acaba se vendo diante de uma conspiração criminosa que pode custar sua vida e daqueles que ama.
Liam Neeson entrega aqui uma interpretação razoável que, embora não impressione, ao menos preserva a força de seu personagem para que o filme consiga manter o interesse do público. Em um filme de suspense, diante de um trem cheio de pessoas suspeitas, é triste que a possibilidade de construção dos personagens tenha sido completamente desperdiçada por opção do roteiro, que acabou preferindo idealizar os personagens em cima de estereótipos. É o caso da garota rebelde que guarda uma bolsa com identidades falsas e do insuportável e arrogante consultor financeiro da Goldman Sachs. Todos se provam como personagens sem sal – provavelmente por medo de desviar a atenção do espectador e o fazer perder o envolvimento com a história, que por si já não emociona.
Com enredo e personagens fracos, O Passageiro ao menos é uma boa diversão por conta de sua direção confiante (que agrada com seus enquadramentos) e uma interessante direção de arte, que trabalha em cima de uma paleta de cores frias, com frequente uso do cinza e do preto. A fotografia reflete bem o ambiente esmagador dos vagões do trem, propondo planos claustrofóbicos (ainda que com um constrangedor efeito vertigo). Mas a maior vantagem do filme, que cria tensão nas horas exatas e facilita a imersão do espectador, é a combinação entre a trabalhosa montagem de Nicolas de Toth, junto a belíssimas músicas do compositor Roque Baños.
Ressalto que poucas vezes me identifiquei tanto com um suspense de ação através de sua trilha musical/sonora. Aqui, presenciamos músicas que sabem o momento certo de criar empatia, receio, ansiedade e por fim, calmaria. São muitos sentimentos expostos através de composições musicais. E só por esse motivo, acredito que O Passageiro já valha o preço de seu ingresso.
Contudo, o filme passa longe de ser o melhor filme da filmografia de Jaume Collet-Serra. Contém várias cenas que beiram o surrealismo (como a maioria dos suspenses de ação) além de um roteiro negligente que só não espanta o espectador da sala de cinema por conta da apreensão causada pelos enquadramentos, trilha sonora e montagem.
FICHA TÉCNICA
Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Byron Willinger, Philip de Blasi, Ryan Engle
Elenco: Liam Neeson, Vera Farmiga, Patrick Wilson, Jonathan Banks, Andy Nyman, Elizabeth McGovern, Dean-Charles Chapman, Ella-Rae Smith
Produção: Andrew Rona, Alex Heineman
Fotografia: Paul Cameron
Montagem: Nicolas de Toth
Música: Roque Baños
Gênero: Suspense / Ação
Duração: 105 min.