Crítica: O Futuro Adiante
Amizade em três atos
A amizade entre Romina (Dolores Fonzi) e Florencia (Pilar Gamboa), as duas personagens principais do argentino O Futuro Adiante, é como tantas outras da vida real: elas não precisam estar próximas em todos os momentos, nem mesmo se amarem o tempo todo. Há entre elas uma intimidade que só tem quem cresceu junto, e que por vezes na vida adulta já é o suficiente, mesmo se for o único ponto em comum.
A diretora Constanza Novick explora a trajetória destas mulheres a partir de três momentos, marcados por rompimentos bruscos. O filme começa um tanto quanto pueril, enquanto acompanha a adolescência das personagens, vai para o reencontro na fase dos quase trinta, quando um ato impulsivo de uma delas coloca a relação em crise, e encaminha seu encerramento alguns anos adiante, já com divórcio e a perda de entes queridos dando peso à realidade. É um ciclo natural, e por isso mesmo capaz de gerar identificação em um público mais maduro.
Por algumas vezes, O Futuro Adiante ameaça ser a clássica história de duas amigas de comportamentos opostos, mas foge disso quando adiciona mais camadas à personagem interpretada por Fonzi. O roteiro mostra que a forma cerebral com que ela vê o mundo pouco se sustenta, por não ser suficiente para blindar uma vida de frustrações e sofrimentos intrínsecos à experiência humana.
Falta, porém, um pouco mais do mesmo tratamento para a co-protagonista vivida por Gamboa, mantida quase sempre em segundo plano e em muitos casos relegada a se mostrar como uma mulher impetuosa, num contraponto ao jeito racional da amiga.
Chama atenção também a opção de Constanza Novick por deixar os eventos grandiosos fora da narrativa, talvez numa tentativa de evitar o tom melodramático das telenovelas, alvo de piada algumas vezes durante a trama. Porém, esta escolha, aliada à uma linguagem estética convencional, deixa o andamento do filme ameno até demais.