42ª Mostra – Crítica: Poderia Me Perdoar?
Gênia incompreendida ou parasita da fama alheia?
Quem já assistiu ao reality show Trato Feito, do History, sabe que o território de vendas de relíquias supostamente assinadas por personalidades é vasto tanto para lucros, quanto para grandes fraudes. Quando alguém surge naquela loja de penhores tentando negociar, por exemplo, um documento autografado por alguma celebridade, precisa antes passar pelo crivo de um especialista, que irá certificar a autenticidade daquele item.
Acontece que nem sempre foi assim, e teve quem conseguiu levantar um bom dinheiro forjando cartas de grandes autores até ser pega com a boca na botija. É o caso de Lee Israel, cuja história chega aos cinemas em Poderia Me Perdoar?, filme que traz Melissa McCarthy no papel da impostora, uma personagem distante do tipo de humor físico e escatológico com a qual a atriz fez fama, em filmes como Missão: Madrinha de Casamento e Caça-Fantasmas.
Vestida com trajes largos, cabelos grisalhos e quase nenhuma maquiagem, Melissa se submete ao teste que aparentemente todo comediante precisa fazer pelo menos uma vez na carreira, assumindo o protagonismo de um filme sério, no caso até triste. As piadas, quando aparecem, vêm apenas das tiradas sarcásticas e do comportamento antissocial da personagem.
Sem traquejo para campanhas de marketing e autopromoção, ou paciência para se misturar aos elitistas companheiros de profissão, Lee Israel se vê como uma injustiçada. Seus trabalhos mais reconhecidos como escritora até o momento onde começa o longa dirigido por Marielle Heller (do ótimo O Diário de Uma Adolescente) foram reportagens e livros biográficos de nomes como a atriz Katharine Hepburn e a empresária Estée Lauder.
Em baixa na carreira e uma porção de dívidas para pagar, ela tem a ideia de usar seu talento com as palavras para falsificar cartas supostamente escritas por autores famosos e negociá-las com colecionadores.
Poderia Me Perdoar? é um filme sobre a solidão, e sobre como alguém que viveu tanto tempo às margens do sucesso pode se sentir amargurado quando este sucesso lhe é negado. É também sobre a indústria da fama, algo que pessoas como Lee ajudaram a construir e, mais adiante, se viram no direito de se aproveitar, como parasitas. Não há redenção na trajetória da personagem, mas sua história real é bizarra o suficiente para chamar a atenção.
Por mais que seja sempre louvável ver um ator ou atriz se arriscando num papel diferente do habitual, ainda é pouco para fazer do filme memorável. A direção de Heller é extremamente convencional, embora correta, mas parece tão contida quanto sua protagonista. Quem rouba a cena acaba sendo o britânico Richard E. Grant (de Assassinato em Gosford Park), como o excêntrico Jack Hock, capaz de inserir alguma bem-vinda anarquia em cena.
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