Crítica: Godzilla II – Rei dos Monstros
Duelo de titãs
A ameaça representada por criaturas gigantescas que desafiam a hegemonia da humanidade como classe dominante do planeta sempre esteve no âmago de filmes do gênero pessoas versus monstros. Os últimos anos têm visto uma saturação do assunto, com a ressurreição da franquia Jurassic World e as voltas de Godzilla e King Kong – essas no fundo uma grande preparação para o grande embate entre os dois personagens, marcado para maio de 2020.
Por mais que os roteiros tentem pegar carona nas discussões sobre natureza e ambientalismo atualmente em voga na sociedade, nenhum deles ainda conseguiu trazer uma abordagem nova. O mesmo acontece com Godzilla II – Rei dos Monstros, que patina em seus momentos de contextualização e se garante apenas quando a pancadaria come solta entre os bichos.
A trama se passa cinco anos depois do filme anterior, lançado em 2014, e forma seu núcleo emocional numa família ainda afetada pela morte trágica de um adolescente durante a passagem de Godzilla por São Francisco. A Dra. Emma Russell (Vera Farmiga) continua trabalhando para a organização Monarca, responsável por monitorar as criaturas gigantes que existem na Terra e cada vez mais pressionada pelo governo norte-americano, enquanto seu ex-marido Mark (Kyle Chandler) voltou para uma vida mais pacata nas montanhas do Colorado. No meio deles está a filha Madison (Millie Bobby Brown, de Stranger Things).
Como em todo filme catástrofe, sempre há uma família em risco, simbolizando o caráter humano da empreitada. O drama dos Russell ganha a companhia de cientistas e militares, e também de um vilão, o “ecoterrorista” interpretado por Charles Dance, sujeito que acredita radicalmente que o mundo será um lugar melhor se dominado pelas criaturas.
Criaturas, assim mesmo, no plural. Além do Godzilla tradicional, o filme traz figuras clássicas da mitologia do personagem, como Mothra e Ghidorah, o arqui-inimigo de três cabeças do lagartão mais famoso do cinema e postulante ao título de rei dos monstros.
Porém, o filme perde muito tempo tentando dar embasamento científico para o arranca-rabo entre os chamados “titãs”. Assim, as sequências em que a equipe de humanos tentam decidir como lidar com a situação caótica soam repetitivas, fazendo a produção cair numa espécie de looping estético: planos de debates em ambientes fechados preparam terreno para uma sequência de ação progressivamente mais pirotécnica que a anterior.
Tudo isso envolto numa fotografia escura, que ajuda na impressão de mesmice. As tentativas de humor resultam deslocadas e apenas bobas, como a piada do personagem de Ken Watanabe com uma mensagem lida num biscoito da sorte. E há uma passagem de gosto duvidoso, quando todos os monstros literalmente abaixam a cabeça para saudar seu líder, ignorando o fato que a tradicional convenção não é algo da natureza, mas sim criada pela sociedade humana.
De qualquer forma, a superprodução tem como mérito trazer os icônicos Mothra e Ghidorah para o século XXI em cenas grandiosas, algo suficiente para chamar a atenção dos fãs de longa data das histórias de Godzilla e capaz de ainda não perder as esperanças por algo melhor em Godzilla vs Kong.