Crítica: X-Men: Fênix Negra
Despedida em fogo brando
“Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. O mantra que apareceu já quase vinte anos atrás, no primeiro filme do Homem-Aranha, pode ser usado para descrever praticamente todo longa do gênero desde então. Junto com a crise existencial que muitas vezes assola seus personagens, são comuns também situações em que estes são tomados por certo impulso a sucumbir ao chamado lado mais sombrio da força, como é o caso da trama de X-Men: Fênix Negra.
Inspirado numa das tramas mais famosas nos quadrinhos dos mutantes, o longa tem como ponto de partida um acidente espacial que concede a Jean Grey (Sophie Turner) dons maiores do que a capacidade de ler mentes e mover objetos, com a qual nasceu. A força alienígena faz com que tudo fique mais intenso dentro dela, incluindo seus rompantes de raiva. Mas exatamente o que fazer com essa carga extra de energia é algo que nem Jean nem o filme sabem ao certo.
X-Men: Fênix Negra tem um claro problema de foco. O diretor Simon Kinberg, que estreia no cargo após assinar o roteiro dos últimos filmes da franquia, disse ter buscado construir um tom parecido com Logan.
Porém, ao contrário da despedida de Hugh Jackman do papel de Wolverine, que ia fundo nos aspectos psicológicos de seu protagonista e bebia na fonte da melancolia, aqui só há a demonstração de um acúmulo de fatos em torno de Jean: o acidente traumático que causou aos pais quando criança, sua relação problemática com o pai, um momento de decepção com o Professor Xavier (James McAvoy). Mas nunca ficam claras as motivações por trás de seus atos, que chegam a ser drásticos a ponto de matar um dos membros da equipe e colocar em risco outros. O enredo sugere uma manipulação por parte da vilã interpretada por Jessica Chastain, mas essa também é uma figura subdesenvolvida no todo.
Ainda bem que, em se tratando de um filme dos X-Men, sempre se pode recorrer ao equilíbrio delicado da relação entre humanos e mutantes para criar aspectos interessantes.
Então mais uma vez vemos o Professor Xavier colocando acima de tudo a manutenção de uma realidade na qual seus discípulos são vistos como aliados dos cidadãos comuns, e não ameaças, política que passa a ser questionada por Raven (Jennifer Lawrence) e Hank (Nicholas Hoult) à medida que coloca em risco o próprio grupo que representam. A forma como o líder decide o que é teoricamente melhor ou pior para cada um também é posta em xeque, embora o roteiro abra essa discussão e depois nunca volte a ela completamente.
Nas cenas de ação, X-Men: Fênix Negra se distancia ainda mais do pretenso aspecto naturalista que Kinberg tentou dar à produção, já que as sequências são banhados em efeitos de computação gráfica, como as luzes que emanam do corpo de Jean e a deixam com um aspecto um tanto parecido com a da Capitã Marvel.
E é justamente este o problema central do filme: nada soa particularmente original. Tudo remete a algo já visto antes, seja dentro da franquia, seja em outras superproduções de heróis. O encerramento de um ciclo iniciado tão bem em X-Men: Primeira Classe merecia mais.